Parte 2: Como a IA está transformando as redações no mundo
Acompanhe os cases de personalização, otimização de paywall e geração automática de conteúdo pelo mundo
Imagem ilustrativa exibindo logotipos de veículos de mídia e de ferramentas de IA nas redações
Todos os anos, a Innovation Media, uma consultoria global especializada que trabalha com as mais importantes empresas de comunicação do mundo, publica um relatório com as tendências e desafios para o setor, com base em suas pesquisas, seu trabalho com empresas e profissionais de comunicação e análises de especialistas em todo o mundo.
O que segue abaixo - e nas próximas páginas - é a tradução para o Brasil dos artigos de sua mais recente publicação.
No capítulo anterior, os especialistas da Innovation cobriram o uso de IA para diálogo com a audiência, geração de pauta e criação de resumos e edição de conteúdo. Neste capítulo, o foco é a personalização, otimização de paywall e geração automática de conteúdo.
AI para Personalização de Conteúdo
Há uma enorme quantidade de notícias circulando hoje em dia e, com o público já reclamando de saturação de assinaturas e demonstrando desinteresse por notícias, a personalização torna-se essencial para aumentar o engajamento do leitor, reter assinantes e impulsionar a receita digital. Algoritmos de IA podem analisar o comportamento, os interesses e os padrões de consumo do usuário para criar notícias, newsletters e recomendações personalizadas.
RCS MEDIAGROUP (Itália)
A RCS Mediagroup - editora do Corriere della Sera e da La Gazzetta dello Sport - está adotando uma abordagem proativa por meio de uma parceria estratégica com a OpenAI.
Essa colaboração resultou na integração de um assistente virtual com IA no aplicativo L’Economia, oferecendo aos usuários buscas personalizadas, resumos e acesso a um arquivo com mais de 30 mil artigos. O uso de IA pela RCS reflete uma tendência mais ampla do setor em direção ao aprimoramento do engajamento do usuário e ao fornecimento de conteúdo direcionado, uma abordagem semelhante à adotada por empresas como o jornal alemão Bild.
AXEL SPRINGER (Alemanha)
O conglomerado de mídia alemão apresentou o Hey_, um assistente de IA integrado ao jornal Bild, projetado para permitir que os usuários explorem tópicos jornalísticos de forma interativa.
O Hey_ personaliza a entrega de conteúdo, oferecendo resumos, destaques principais e até mesmo histórias para dormir personalizadas conforme as preferências do usuário.
Diferentemente de uma busca ou feed de notícias tradicional, ele envolve ativamente os usuários em conversas dinâmicas, ajudando a guiá-los pelos tópicos e tornando as interações mais imersivas.
Essa ferramenta também oferece aos jornalistas uma nova maneira de apresentar as notícias num formato de diálogo interativo, aumentando o engajamento do leitor e criando uma experiência de notícias mais personalizada.
O Hey_ cria um ambiente onde o jornalismo complementa a inteligência artificial e fornece respostas em forma de diálogo conforme o tópico. Os usuários podem escrever algo completamente aberto e receber respostas de acordo com o tema. O conceito foi ainda mais desenvolvido para o WELTgo!, um assistente digital de IA para assinantes que propicia uma nova forma de interagir com o conteúdo jornalístico do Welt.
AI para Otimização de Paywalls
A transição dos modelos tradicionais de paywall com limite de acesso para modelos dinâmicos e preditivos tem gerado resultados fantásticos para as editoras, e é um dos melhores casos de uso da IA em redações.
Algumas empresas de comunicação estão começando a desenvolver as ferramentas internamente, mas muitas, talvez mesmo a maioria, compram soluções de fornecedores como Piano, Zuora ou Sophi, da Mather.
LE MONDE (França)
O Le Monde fez uma parceria com a Mather Economics para analisar como vários benefícios para assinantes - como palavras cruzadas, jogos, acesso ao arquivo e edições especiais - afetam a fidelidade e a lucratividade a longo prazo. Essa colaboração levou a diversas iniciativas estratégicas com o objetivo de aumentar a retenção e o engajamento do leitor.
As principais iniciativas da parceria incluem:
- Ofertas de Assinatura Reformuladas: O Le Monde redesenhou sua página de assinatura para destacar os três principais benefícios identificados na análise da Mather. Por meio de testes A/B, compararam uma oferta simplificada com uma lista abrangente de benefícios para medir seu efeito na conversão de assinantes, visando um crescimento de 1,5%.
- Campanhas de E-mail Direcionadas: O jornal aumentou a frequência de e-mails direcionados informando os assinantes sobre seus benefícios e incentivando um maior uso deles. Por exemplo, a campanha Le Monde Jeux levou a um aumento de 10% de uso entre assinantes, um aumento de 3% na taxa de atividade e um aumento de 10 pontos percentuais em relação à conclusão de jogos em comparação com a média de 2024.
- Estratégias Proativas Anti-Churn: O Le Monde lançou campanhas de e-mail direcionadas focadas em novos assinantes sob risco de perda, enfatizando os principais benefícios para reforçar o valor da assinatura e impulsionar um engajamento mais profundo. Os primeiros resultados mostraram melhorias promissoras de retenção, refletindo a eficácia desta abordagem personalizada.
HEARST (EUA)
A Hearst Newspapers implementou um modelo de machine learning, desenvolvido em colaboração com a Mather Economics, para avaliar a fidelidade e o risco de cancelamento de assinantes digitais através da análise de 75 variáveis, incluindo histórico de pagamentos, duração da assinatura e engajamento com a newsletter. Este modelo atribui a cada assinante uma pontuação de zero a 10, orientando estratégias de engajamento direcionadas. Vale notar que campanhas direcionadas a assinantes com níveis de engajamento baixo a médio resultaram em um aumento de 7% a 11% no engajamento. Por outro lado, esforços semelhantes direcionados a assinantes altamente fiéis tiveram um impacto negativo, indicando que esses leitores preferem suas rotinas de consumo já estabelecidas, sem incentivos adicionais de conteúdo.
UNITED DAILY NEWS (Taiwan)
O United Daily News (UDN), uma das principais empresas de comunicação de Taiwan, recorreu à IA e à análise de dados para impulsionar o crescimento de assinaturas. Destaque no prêmio WAN-IFRA de Mídia Digital de 2024, a estratégia do UDN concentra-se em entender qual conteúdo gera engajamento do leitor e assinaturas. Usando sua ferramenta Curate X e mapa de consenso, a redação rastreia quais tópicos atraem e retêm assinantes pagantes e, em seguida, ajusta sua cobertura de acordo.
Essa abordagem orientada por dados teve um grande impacto. Em 2023, o UDN viu um aumento de 280% nas assinaturas e um aumento de 180% na penetração dos participantes como membros. Ao analisar o comportamento do leitor, eles descobriram que tópicos como educação, opinião e cultura levaram a maiores conversões de assinaturas, o que os levou a se concentrarem mais em histórias da vida real. Essa estratégia não apenas aumentou a receita, mas também ajudou a redação a se tornar mais focada no público, garantindo que os leitores recebam conteúdo pelos quais dão mais valor.
Geração Automática de Conteúdo por IA
A IA está sendo cada vez mais usada para gerar conteúdo, principalmente para tipos de notícias mais rotineiras, como resultados financeiros, resumos de eventos esportivos e atualizações meteorológicas. O uso de IA e automação para esse fim precede o surgimento da IA Generativa, mas, nos últimos anos, os usos tornaram-se mais atraentes.
Os princípios, é claro, permanecem os mesmos - a automatização da criação de conteúdo permite que as empresas de comunicação reduzam custos, otimizem a eficiência da redação e aloquem recursos humanos para o jornalismo investigativo mais complexo.
EXPRESS.DE (Alemanha)
A Express.de, uma importante plataforma de notícias alemã, integrou uma assistente com inteligência artificial às suas operações de redação, chamada Klara Indernach. Klara foi projetada para auxiliar na estruturação de artigos, resumir dados e gerar matérias. Desde sua introdução, ela contribuiu para aproximadamente 6% dos artigos na Express.de, representando 5,2% do total de acessos ao conteúdo da plataforma.
A Klara opera recebendo tarefas da equipe editorial e identificando tópicos relevantes para a região de Colônia de forma proativa. Se um tópico pertinente não for abordado, a plataforma redige um artigo de forma autônoma para preencher a lacuna. Essa abordagem garante a cobertura oportuna de assuntos emergentes, aprimorando a capacidade de resposta da plataforma aos eventos do momento. Para humanizar a integração da ferramenta de IA, a Express.de personalizou Klara com um avatar digital, tornando mais fácil para a redação a aceitação e interação com a tecnologia. Thomas Schultz-Homberg, o CEO da empresa dona do Express.de, a Kolner Stadt-Anzeiger Medien, disse que ter um bot de IA como a Klara por perto está virando parte da realidade.
Embora Klara aumente a eficiência ao lidar com tarefas rotineiras, que exigem grande volume de dados, os editores humanos continuam sendo essenciais no processo de publicação. Eles revisam o conteúdo gerado por IA para verificar as fontes e manter a integridade jornalística, especialmente em reportagens complexas ou investigativas que exigem uma compreensão mais aprofundada.
“A ideia por trás da Klara era humanizar a IA de certa forma, porque você pode usar muitos modelos de IA e esclarecê-los no final do artigo, mas fomos além, pois fará parte do nosso dia a dia ter um bot de IA ao nosso redor, muitas cirurgias serão realizadas em torno da gente com o auxílio de IA e serão humanizadas por avatares como a Klara - é mais fácil aceitar a tecnologia com a presença humana”, disse Schultz-Homberg ao The Audiencers.
FOX (EUA)
A Fox Sports desenvolveu ferramentas internas de gráficos que turbinam as transmissões esportivas ao vivo, fornecendo informações para as equipes de produção com base em dados em tempo real. Essas ferramentas analisam situações de jogo em andamento - como um confronto entre o arremessador e o rebatedor no beisebol - e fornecem análises estatísticas e probabilidades de resultados instantaneamente. Isso permite que produtores e comentaristas enriqueçam a narrativa com histórias baseadas em dados, oferecendo aos telespectadores um entendimento mais profundo sobre como uma jogada pode se desenrolar. Melody Hildebrandt, diretora de tecnologia da Fox Corp, explicou à INMA que “Isso nos permite contar histórias diferenciadas, colocando os dados nas mãos de usuários não técnicos”.
Ao integrar análises preditivas às transmissões ao vivo, a Fox Sports está elevando o engajamento do público e estabelecendo um novo padrão para a cobertura esportiva baseada em dados.
Essas informações em tempo real transformam os comentários tradicionais em uma experiência mais interativa, ajudando os torcedores a entenderem melhor o contexto estatístico por trás de cada jogada. Essa inovação, divulgada pela INMA, destaca como a IA e a análise de dados estão remodelando o jornalismo esportivo, tornando a cobertura mais informativa e imersiva. ◼
No próximo artigo, a Innovation analisa o uso de IA para o resumo e reutilização de conteúdo, checagem de fatos e combate à desinformação, e tradução e transcrição de material.
Para acessar a publicação original da Innovation, visite o site innovation.media
Parte 1: Como a IA está transformando as redações no mundo
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