Como a IA está transformando as redações no mundo
A inteligência artificial chegou ao jornalismo para ficar - e exemplos de impacto positivo na produção editorial já começam a despontar e demonstrar que, se empregada corretamente, pode ser uma forte aliada e não uma ameaça ao jornalismo
Imagem ilustrativa da publicação Innovation in Media World Report 2025/2026
Todos os anos, a Innovation Media, uma consultoria global especializada que trabalha com as mais importantes empresas de comunicação do mundo, publica um relatório com as tendências e desafios para o setor, com base em suas pesquisas, seu trabalho com empresas e profissionais de comunicação e análises de especialistas em todo o mundo.
O que segue abaixo - e nos próximos artigos relacionados - é a tradução para o Brasil dos artigos de sua mais recente publicação.
Três anos desde o início da chegada explosiva da Inteligência Artificial Generativa, as redações foram de experimentos cautelosos para a implementação de ferramentas de produções completas. Novidades despontam semanalmente, com uma nova capacidade ou uma nova empresa prometendo transformar como o jornalismo é feito - alguns deles realmente úteis, outros com mais RP do que eficácia. Mas uma coisa é certa: a IA chegou para ficar. A verdadeira questão é como ela deve ser usada, e onde realmente acrescenta valor.
Apesar dos grandes avanços, mesmo as versões mais avançadas de language learning models - os LLMs - ainda não são confiáveis para escrever notícias por conta própria. Elas alucinam, cometem erros factuais e não entendem o contexto. E elas não podem replicar o que é tão essencial para o jornalismo: precisão, confiabilidade e discernimento. Isso significa que manter controle editorial humano é imprescindível.
Mesmo assim, a IA já está demonstrando seu valor nos bastidores. Nas mãos de jornalistas, ela é uma ferramenta poderosa para ter mais velocidade, eficiência e volume. Ela pode resumir relatórios de 80 páginas em segundos, identificar citações em documentos, sugerir manchetes e automatizar fluxos de trabalho que antes demoravam horas. Ela não chegou para substituir os repórteres, mas para criar mais tempo para a reportagem.
Mas, como qualquer ferramenta, a utilidade da IA é proporcional à estratégia que a sustenta. As melhores redações não estão adotando cada ferramenta nova só porque está na moda. Elas estão perguntando: Onde ela realmente pode ajudar? O que só as pessoas podem fazer? Elas estão selecionando com cuidado, criando proteções editoriais e focando nos resultados, no lugar de modismos.
E, cada vez mais, elas estão estabelecendo medidas de desempenho - as KPIs - não só para medir a eficiência da IA, mas para garantir que as ferramentas sejam relevantes para seus principais objetivos editoriais. Seja ganho de produtividade, maior abrangência, alavancagem de assinaturas ou novas áreas de cobertura, a firme ligação entre ferramentas de IA e objetivos da redação é o que distingue inovação em relação à simples experimentação.
Se uma ferramenta não consegue demonstrar impacto mensurável, ela provavelmente não merece ser usada no fluxo de trabalho.
Antes de nos aprofundarmos nas ferramentas e inovações de maior destaque no último ano, vale lembrar três regras básicas:
- Use IA como uma assistente, não como autora - ela pode estruturar, resumir e auxiliar, mas o jornalista tem que ficar no controle
- Use a ferramenta para a tarefa adequada - a IA é ótima para resumir, pesquisar e limpar o material, mas (ainda) não pode substituir conteúdo original ou reportagem na rua
- Mantenha o controle editorial - todo conteúdo com participação de IA tem que contar com o olho humano para garantir precisão e proteger a credibilidade
A seguir trazemos alguns dos usos e práticas de IA mais promissoras no jornalismo. São ferramentas que realmente estão funcionando, desenvolvidas internamente ou adquiridas no mercado. Seja para aprofundar investigações, melhorar o engajamento com audiências ou reduzir a perda de tempo com atividades rotineiras, estes exemplos mostram como a IA pode dar um enorme impulso ao jornalismo sem o comprometer.
IA para Diálogo e Engajamento com a Audiência
RAPPLER (Filipinas) - RAI
O Rappler lançou recentemente o Rai, um chatbot com IA que permite que usuários façam perguntas sobre o jornalismo do Rappler com respostas críveis, onde as fontes são identificadas. O objetivo da ferramenta é aumentar a transparência e restaurar a credibilidade de redações num momento em que as redes sociais estão dando menos ênfase ao conteúdo noticioso.
“As redes sociais reduziram a ênfase ao conteúdo noticioso, portanto como você pode engajar com sua audiência; como você pode manter tráfego e manter o engajamento de sua audiência com seu conteúdo?”, disse a diretora para serviços digitais do Rappler, Gemma Mendoza, em entrevista ao GIJN.
LABOT (Chile)
O Labot também permite acesso via diálogo a notícias através do Telegram e Facebook Messenger, permitindo que os usuários utilizem uma ferramenta de chat intuitiva para explorar conteúdo jornalístico.
Sistemas Automatizados de Geração de Ideias e Conteúdo
IDEIA/ SJCC (Brasil)
O sistema IDEIA, desenvolvido em colaboração com o grupo de comunicação SJCC (Sistema Jornal do Commercio de Comunicação) com sede em Recife (PE), é uma poderosa ferramenta de apoio editorial que simplifica o processo de planejamento em até 70%. Ele usa dados do Google Trends com o Gemini, também do Google, para gerar sugestões de pautas relevantes e do momento, em tempo real. Os jornalistas recebem sugestões de manchetes e breves sinopses mirando os interesses do momento, o que permite que respondam rapidamente à curiosidade do público e otimizem sua estratégia de conteúdo em todas as plataformas. Criado numa estrutura moderna e ampliável (Node.js, React, PostgresSQL), o IDEIA está integrado ao fluxo de produção editorial do SJCC.
Um relatório sobre o projeto afirma que IDEIA foi criado levando em conta padrões éticos e controle editorial. Apesar de automatizar o monitoramento de tendências e a geração de ideias, as decisões finais continuam nas mãos de editores, que checam o conteúdo de IA para garantir precisão, tom e isenção. Sua arquitetura modular permite que possa ser adaptado por outras equipes de conteúdo ou empresas de comunicação, e já está sendo considerado como um modelo replicável de jornalismo apoiado por IA para países em desenvolvimento. Como um dos primeiros exemplos de implementação real de uma ferramenta de geração de pautas, o IDEIA demonstra como a IA Generativa pode realmente expandir o fluxo de trabalho jornalístico.
Ferramentas de IA para Resumos e Edição
TIME (EUA) - AI Audio Brief
A Time lançou o AI Audio Brief, um recurso experimental que transforma o conteúdo de sua newsletter em segmentos de áudio curtos e conversacionais com duas vozes geradas por IA, o "Henry" e a "Lucy".
Construída usando modelos da OpenAI por meio da ScaleAI, a ferramenta foi projetada para tornar o jornalismo da Time mais envolvente - especialmente para o público que prefere conteúdo em áudio. O que diferencia o projeto é seu compromisso com o rigor editorial: todos os resumos são gerados a partir de conteúdo existente na redação, garantindo precisão factual e fontes reais antes de serem convertidos em diálogo.
Os Audio Briefs visam replicar a sensação de uma conversa natural, transmitindo os principais pontos de uma matéria em poucos minutos. A Time enquadrou a ferramenta não apenas como um experimento de reaproveitamento de conteúdo, mas como parte de um esforço mais amplo para explorar como a IA pode personalizar e diversificar o consumo de notícias em diferentes formatos. ◼
No próximo artigo, a Innovation analisa o uso de IA para a personalização de conteúdo, otimização de paywall e geração automática de conteúdo.
Para acessar a publicação original da Innovation, visite o site innovation.media
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