O sucesso (e os insucessos) das 38 primaveras de IMPRENSA

Parte 1: A primeira década de IMPRENSA foi marcada pelo crescimento, crises e saída dos sócios

Atualizado em 04/11/2025 às 16:11, por Alexandra Itacarambi.

Primeira Capa da revista IMPRENSA e capa histórica com Roberto Marinho



Imprensa em si é um nome forte. Primeiro por significar o próprio jornalismo, arte e ciência de contar o que está acontecendo com os indivíduos e a sociedade. Segundo, por consenso da sociedade, passou a significar a atividade jornalística, tanto na dimensão do negócio, a indústria jornalística, como na dimensão corporativa.

Ao criar a revista, assumiu-se a vertente da metalinguagem da palavra, uma linguagem sobre outra linguagem, tendo como objetivo o olhar crítico e analítico. Como Sinval gostava de dizer “era como fazer comida para cozinheiro.”

A Revista IMPRENSA foi parida em setembro de 1987 por quatro jornalistas, Dante Matiussi, Paulo Markun, Manuel Canabarro e Sinval de Itacarambi Leão, ao perceberem a importância tanto da instituição, como para os profissionais de imprensa, após 25 anos de ditadura civil-militar no Brasil. A sede da empresa recém-fundada pelos quatro sócios, a Feeling Editorial, ficava no bairro de Perdizes, em São Paulo.
 

Independente do quê?

Ao surgir durante a constituinte, IMPRENSA tinha na veia a liberdade e a democracia. Assumia-se também o propósito de independência com relação às instituições estabelecidas - as acadêmicas, as corporativas (patrões e empregados) e os partidos políticos. Uma jabuticaba, como disse uma vez um jornalista gringo, coisa que só existia no Brasil.

A primeira edição de IMPRENSA estreou com a entrevista do Otavio Frias Filho, condutor de uma revolução pelo projeto Folha de São Paulo, e foi contextualizada através uma pesquisa sobre a confiança da sociedade nos jornalistas, estampando “Perdemos a credibilidade”. A tiragem de dez mil exemplares, em papel jornal, teve uma repercussão impressionante no meio jornalístico e também na sociedade, com distribuição gratuita nas redações e em banca.

A missão do título, que tinha como o objeto editorial a própria produção e a profissão do jornalista, nunca foi só informativa. Desde seus primórdios, também tinha propósito formativo, envolvendo em cada edição os aspectos profissionais, éticos e morais.

Ainda em 1987, foi feito o primeiro evento, um fórum sobre a informatização das redações, patrocinado pela Secretaria de Tecnologia do Governo de São Paulo, com a presença de um conferencista internacional do Vale do Silício.


Esso, Esso, Esso, IMPRENSA é um sucesso!

Como é de praxe, todas as publicações começam pelo ano 1 e assim contamos os anos sempre com 1 a mais, a cada primavera. IMPRENSA estava prestes a entrar no seu ano 2, quando foi aclamada com dois prêmios Esso: o Prêmio Esso de Fotojornalismo - “Aids, novo tabu da imprensa”, foto publicada em fevereiro de 1988, já em papel LWC, com a imagem de um paciente terminal na seção “Ponto de Vista”, e o destaque para o primeiro caderno especial “Homenagem a Fernando Pessoa” publicado na edição de número 11.

Mas o Esso não foi seu primeiro reconhecimento, já havia recebido a Medalha de Ouro do Prêmio Colunistas, como destaque do ano. E estava pronta para seu primeiro salto, dia 20 de novembro de 1988, domingo às 20h, em horário nobre, lançou na TV Gazeta o programa semanal IMPRENSA na TV.

Assim como a capa de número 6 sobre o livro de memória de Samuel Wainer, que teve grande repercussão, a edição 19 sobre “O Crime da Rua Cuba” esgotou rapidamente, dada a polêmica da cobertura feita pela grande imprensa. A publicação já estava com 20 mil exemplares, começou-se então o processo de substituição do mailing dirigido para a venda de assinaturas, com grande desconto, para criar uma carteira de assinantes pagos.

Antes de completar o segundo ano, ocorreu o primeiro racha, com a saída dos sócios Markun e Canabarro, mas ainda mantida a direção de redação do jornalista Gabriel Priolli, presente desde o segundo número até o número 49.

 

Mártir da liberdade

Em setembro de 1989, aconteceu a primeira festa de entrega do Prêmio Líbero Badaró de Jornalismo, patrocinado pelo Banespa e tendo a ABI como presidente do júri. Com uma comissão de jurados formada por jornalistas reconhecidos, teve o compromisso de priorizar a ética e o talento nacional, e principalmente, um júri mandatário eleito pelos seus pares, ano após ano. O Grande Prêmio daquela primeira edição foi para o jornalista Jaime Martins, uma unanimidade.

A figura do Líbero Badaró era o que faltava para dar concretude à defesa pela liberdade de imprensa e democracia, o DNA presente em todo o percurso da IMPRENSA. "Morre um liberal, mas não morre a liberdade."

   

O tombo e a recuperação

Em 1990, último ano do Governo Sarney, o faturamento da editora dobrou em função da publicidade e ganhou o Prêmio Marketing Best, alavancando mais um passo ousado, o SP Press Center.

Contudo, não durou muito. O governo Collor (1991/1992) acabou com a primeira expansão do projeto IMPRENSA. Antes da tomada de posse, a editora implantou o SP Press Center, um centro de imprensa na Avenida Brigadeiro Faria Lima, com “equipamento do primeiro mundo”, segundo a então ministra Dorothea Werneck. O centro foi um fracasso de utilização, pois as editoras entraram em recessão, em todas as frentes - assinatura, banca e publicidade.

A empresa Feeling Editorial que estava na Faria Lima, encontrou novo endereço no Pacaembu, na rua Livreiro Saraiva.

Os três anos seguintes foram anos de recuperação, mas com a empresa não conseguindo resolver o pagamento das dívidas em banco. Já se evidenciava que o marketing do negócio publicitário sofria alterações pela compra das agências brasileiras pelas multinacionais. Há também uma adaptação da indústria jornalística, reduzindo suas redações e gerando um novo negócio, que eram as assessorias de imprensa, formadas por jornalistas egressos das redações.

Nestes anos, IMPRENSA começou a produzir mais eventos e cadernos especiais na linha promocional e da reciclagem profissional, visando também o crescimento dos alunos nas universidades particulares de jornalismo.

Entre os vários formatos de encartes, um especial de 24 páginas sobre o censo patrocinado pela CEF, intitulado “O Brasil dos brasileiros”, um glossário de economês escrito por José Maria dos Santos ou um pôster da Copa para celebrar o Tetra em 1994. Os cadernos regionais sempre estiveram presentes e foram fonte de publicidade, começando por Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Ceará e Paraná.

Dos eventos, destaque para o I Encontro Internacional de Imprensa, Meio Ambiente e Desenvolvimento, o Imprensa Verde 92, em decorrência da Conferência da ONU no Brasil, a ECO-92. E o primeiro Seminário Internacional de Telejornalismo, no Palácio das Convenções do Anhembi, que teve sete edições subsequentes ao longo dos anos 90 e mostrou que havia campo para outros tipos de seminários.

Mais duas frentes surgiram, em 17 de setembro de 1992 foi a estreia do programa IMPRENSA no Rádio, na CBN. E em agosto de 1994, criou-se a Revista IMPRENSA Mídia, para o mercado publicitário, que era um caderno na IMPRENSA acoplado à tabela do Mapa da Mídia.


Colunistas de peso

Com espaço editorial na revista carro-chefe, e finalizando o quinto ano, IMPRENSA amplia seu time de colunistas, juntam-se aos já colaboradores Moacyr Japiassu “Perdão, Leitores”, Lucas Mendes “Manhattan”, Carlos Brickmann “Torpedos de Mel”, Carlito Maia “Tempos Modernos”, Carlos Eduardo Lins da Silva “Media Watch”, Hugo Studart “Copa e Cozinha”, Josué Machado “Língua” e Washington Novaes “Sinal Verde”, outros nomes de peso: Alberto Dines, Armando Nogueira, Augusto Nunes, Guilherme Cunha Pinto, José Marques de Melo, Roberto Drummond, Valéria Sffeir e Ziraldo.

Em 1996, IMPRENSA conquista o Prêmio Esso de Melhor Contribuição à Imprensa pela matéria “Sangue Frio” sobre o caso da Escola Base, além do Prêmio Vladimir Herzog de Direitos Humanos, do Sindicato dos jornalistas de SP. O faturamento volta a crescer com os eventos, com destaque para o lançamento do Seminário Internacional de Radiojornalismo e a terceira edição do Seminário Internacional de Telejornalismo no Rio de Janeiro, com sucesso de bilheteria  e a presença de Peter Arnett (CNN), o jornalista mais conhecido da Guerra do Golfo.

Muda-se para a famosa esquina Ipiranga com avenida São João. Assina parceria com a Folha de SP, entrando na era da internet ao lançar o Imprensanet com mais de 64 mil “hits” no primeiro mês e com direito até ao email oficial - imprensa@folha.com.br.

Em abril de 1997, foi a vez do Seminário de Internacional de Jornais Diários, em Belo Horizonte, com o tema “O futuro do jornal diário”. E o primeiro fórum encomendado por um cliente, com função paradidática com relação à prática jornalística, o Fórum CEF do Habitação Social.

Ao completar o décimo ano, Matiussi sai da sociedade, Sinval de Itacarambi Leão funda a empresa Imprensa Editorial Ltda., uma empresa mais compacta, que tem como principais veículos a revista IMPRENSA e o programa IMPRENSA na TV, que passou pelos principais canais da época: Record, SBT, Canal 21, TV Gazeta, e teve como apresentadores nomes como Carlos Nascimento, Marco Antônio Rocha, Astrid Fontenelle, entre outros, volta ao canal 21 da Rede Bandeirantes.

Agora como único editor e diretor, Sinval assina o editorial de aniversário que traz os principais acontecimentos políticos e econômicos destes dez anos e anuncia o futuro promissor.


Acompanhe a cronologia

Década de 1980

1987:

Criação da Revista IMPRENSA em setembro de 1987 

Realização do Fórum sobre a Informatização das Redações

Criação do Caderno de Mídia dentro da publicação a partir da ed.7 

1988:

Ganha a Medalha de Ouro do Prêmio Colunistas

I Simpósio Latino Americano de Circulação de Jornais

Caderno Especial “Homenagem a Fernando Pessoa”

Lançamento na TV Gazeta do programa IMPRENSA na TV

Lançamento do Prêmio Líbero Badaró de Jornalismo

Recebe dois prêmios Esso, um de fotojornalismo e outro como destaque do caderno “Homenagem a Fernando Pessoa” 

1989:

Alcança a tiragem de 20 mil exemplares/mês

Glossário das Redações, assinado pelo jornalista José Maria dos Santos

Primeiro Caderno Regional (Minas Gerais)

Seminário Jornalismo & Marketing e Caderno Especial “O negócio da comunicação”, patrocinado pelo BNDES e realizado na ESPM

IMPRENSA na TV passa para TV Record, com Carlos Nascimento

 

Década de 1990

1990:

Caderno Regional POA/RS

Estreia da coluna “ Manhattan” de Lucas Mendes ed.33

II Prêmio Líbero Badaró de Jornalismo

Estreia da coluna “Torpedos de Mel” de Carlos Brickmann ed. 38 e “Tempos Modernos”, de Carlito Maia ed.44

1991:

Projeto educativo Jornalistas do Futuro em parceria com a Editora Abril

Primeira capa de IMPRENSA com dois jornalista negros, Bernard Shaw da CNN e Glória Maria da Globo

Filiação à ANER

Muda-se para Av. Brigadeiro Faria Lima na sede do SP Press Center 

1992:

Imprensa Verde 92, encontro internacional de imprensa, meio ambiente e desenvolvimento, por conta da Eco-92 no RJ

IV Prêmio Líbero Badaró de Jornalismo

Capa polêmica na ed. 61, do Roberto Marinho com a faixa presidencial

Lançamento de IMPRENSA no Rádio na CBN

1993:

3 cadernos especiais em uma única edição: os 170 anos da imprensa paulista,  Imprensa Interior de SP e 60 anos da agência Ogilvy & Mather

1994:

Realiza o Seminário Internacional de Telejornalismo em SP

Cria a Revista IMPRENSA MÍDIA para o mercado publicitário

Expansão de colunistas 

1995:

Realiza o II Seminário Internacional de Telejornalismo

A edição 91 com a chamada “Venha para a Internet” esgota em banca

1996:

Conquista o Prêmio ESSO de Melhor Contribuição à Imprensa pela matéria “Sangue Frio” sobre o caso da Escola Base, além do Prêmio Vladimir Herzog de Direitos Humanos, pelo Sindicato dos jornalistas de SP

Lançamento da Imprensanet com mais de 64 mil “hits” no primeiro mês, em parceria com a Folha de SP

I Seminário Internacional de Radiojornalismo em São Paulo

Sucesso de bilheteria: acontece o III Seminário Internacional de Telejornalismo no Rio de Janeiro com mais de 600 inscritos

1997:

I Seminário de Internacional de Jornais Diários em Belo Horizonte – O futuro do jornal diário

Colunista Eduardo Ribeiro assume a seção permanente “Misto Quente”, pout-pourri de notinhas sobre as redações, na ed. 116

II Seminário Internacional de Radiojornalismo em Porto Alegre 

V Prêmio Libero Badaró de Jornalismo, patrocinado pelo Sebrae 

IV Seminário Internacional de Telejornalismo em Salvador 

Capas passam a ter barcode


A linha do tempo foi escrita por Alexandra Itacarambi em 2025, e conta a história da IMPRENSA de 1987 a 2017

Parte 1: O sucesso (e os insucessos) das 38 primaveras de IMPRENSA

Parte 2: “Um ombudsman sem mandato, com a legitimidade advinda da credibilidade”

Parte 3: “Contestar é um dever que se impõe à inteligência”, já dizia Oswald de Andrade
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