Por Juliano Domingues*

Fazer ciência no Brasil é ato de resistência. E os desafios são ainda maiores nas humanidades e nas ciências sociais, onde estamos situados pesquisadores e pesquisadoras da Comunicação em suas interfaces. É de encontro a encontros que a nossa comunidade científica estabelece vínculos significativos para superá-los. É com esse espírito de resistência e construção coletiva que retomamos a parceria histórica entre a Intercom (Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação) e o Portal IMPRENSA, espaço fundamental de diálogo entre o pensamento acadêmico, o jornalismo profissional e os anseios da sociedade.

Esta publicação, no dia 5 de novembro, data de nascimento de Rui Barbosa, celebra não apenas essa retomada, mas sobretudo a defesa intransigente da liberdade de expressão e do conhecimento. Iniciativas nesse sentido, mostram-se ainda mais necessárias quando rememoramos as circunstâncias vivenciadas nos últimos anos, as quais mergulharam o país em uma espécie de tempestade perfeita: a escassez de recursos para fomento da ciência antecedeu a instabilidade política da qual emergiu um governo negacionista e avesso à democracia, em um contexto de pandemia.

Passada a tempestade, era preciso reconstruir-se. E foi o que a Intercom fez. A Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação honrou seu DNA marcado pela inovação e se reinventou, após um intenso processo de reflexão e diálogo entre diretoria, conselho curador e comunidade científica. O resultado se refletiu em mudanças em diversos níveis, que evidenciam o vigor da produção do conhecimento em Comunicação, apesar das adversidades.

Neste ano, a Intercom bateu recorde de participação em seus congressos. Somando os cinco eventos regionais, foram 6.106 inscrições; no nacional, 3.741 pessoas inscritas - no total, 9.847 participações. No conjunto, 5.173 trabalhos foram aprovados para apresentação, sendo 3.360 aos congressos regionais e 1.813 ao nacional. Para dimensionar esses números, vale a comparação a título de ilustração com o congresso da International Association for Media and Communication Research (IAMCR) deste ano, que reuniu 1.700 participantes em Singapura, número celebrado pela IAMCR como recorde histórico.

O crescimento mais expressivo ocorreu nos nossos encontros regionais, cuja participação aumentou 172% de 2024 para 2025. Essa expansão resulta de uma mudança estrutural no modelo do evento, fruto da sensibilidade da Intercom ao estabelecer, pela primeira vez, uma Chamada de Proposição de Grupos de Trabalho (GTs) antes da chamada de trabalhos. Assim, tornou-se possível mapear previamente as demandas e criar (GTs) específicos para cada região, contemplando a diversidade das agendas locais de pesquisa.

O congresso nacional também se destacou em 2025, ao consolidar um formato também inclusivo inovador, estruturado em duas etapas consecutivas - uma fase remota e outra presencial -, ampliando oportunidades de participação e garantindo maior capilaridade na apresentação de trabalhos. Dos 2.021 trabalhos submetidos, 1.479 foram distribuídos entre os 32 Grupos de Pesquisa (GPs), 471 ao Intercom Júnior - dedicado a estudantes de graduação e recém-graduados - e 71 à Publicom, mostra voltada ao lançamento de livros. Os GPs concentraram 73,2% do total de submissões, seguidos pelo Intercom Júnior (23,3%) e pela Publicom (3,5%).

Esse cenário inspira otimismo e reforça a convicção de que há um horizonte promissor. Mais do que números positivos, 2025 oferece a reafirmação do vigor de quem “segue em frente e segura o rojão”, como na canção de Gonzaguinha. A comunidade científica da área da Comunicação - a Intercom, em especial, com seus quase 50 anos de percurso - conhece, é verdade, as pedras do caminho, mas conhece, sobretudo, o caminho que nos leva ao reencontro, no qual se inscreve também a retomada dessa parceria com o Portal IMPRENSA.

*Presidente da Intercom, pesquisador CNPq e professor da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) e da Universidade de Pernambuco (UPE).