“Com um posicionamento avançado para a sua época, Rui Barbosa revelava a sensibilidade às questões sociais e a necessidade de justiça material”, diz Frei Betto

Frei Betto é agraciado com a Medalha Rui Barbosa 2025, em cerimônia realizada na sede da Fundação

Atualizado em 05/11/2025 às 10:11, por Alexandra Itacarambi.

A imagem mostra um homem mais velho, de cabelos grisalhos e curtos, usando óculos. Ele veste uma jaqueta bege sobre uma camisa azul. O homem está sentado e parece estar em um ambiente interno, com expressão séria e olhar voltado para frente.

Frei Betto (freibetto.org)


Instituído pela Lei n.º 5.579, de 1970, o dia da cultura e da ciência é celebrado em 5 de novembro — data escolhida em homenagem ao nascimento de Rui Barbosa, em 1849, intelectual que se destacou nas letras, ciências, no direito e na política brasileira.

O mineiro Carlos Alberto Libânio Christo, frade dominicano, escritor e jornalista, conhecido como Frei Betto, será um dos agraciados da Medalha Rui Barbosa deste ano, pelo reconhecimento de seu legado ao longo de sua trajetória profissional e sua luta pelos direitos humanos.

Autor de uma vasta produção intelectual incluindo 74 livros e a colaboração ativa com imprensa, entre jornais, revistas, sites e blogs, Frei Betto, em depoimento para o Portal IMPRENSA, descreve traços que certamente aproximam sua trajetória com a de Rui Barbosa, como, por exemplo, a longa e profícua participação na vida política do Brasil.

Com um posicionamento avançado para a sua época, revelava a sensibilidade às questões sociais e a necessidade de justiça material. Com a proclamação da República, Rui Barbosa tornou-se um dos principais articuladores do novo regime. Foi autor intelectual da Constituição de 1891, marco do Estado Democrático Brasileiro, que consagrou princípios como a separação dos poderes, a liberdade de imprensa e de culto e os direitos individuais. Em um momento de transição e incerteza, Rui defendeu a soberania popular e o império da lei, combatendo o autoritarismo e a centralização do poder.”

Apesar de viverem em épocas bem distintas, Frei Betto, assim como Rui, trabalhou incessantemente em prol da educação, do conhecimento e da cultura, sendo ambos reconhecidos no Brasil e no exterior. Recebeu o título de Doutor Honoris Causa em Filosofia, concedido pela Universidade de Havana. Dois anos depois, em 2017, foi agraciado de novo, desta vez pela Universidade José Martí, de Monterrey, México, com o título Doutor Honoris Causa por seu trabalho em prol da Educação na América Latina.

Frei Betto descreve Rui com um homem que acreditava que o progresso do Brasil dependia da instrução pública, do combate às desigualdades. Para ele, a soberania não era apenas territorial, mas também moral e intelectual. Um país só seria verdadeiramente independente se seu povo fosse culto, livre e consciente de seus direitos.

Cerimônia

A honraria instituída pela Fundação da Casa de Rui Barbosa em 1949, é frequentemente confundida com medalhas de mesmo nome, como a do Conselho Federal da OAB criada em 1970. Este ano, a cerimônia será realizada no dia 7 de novembro, na sede em Botafogo, com transmissão pelo Youtube da Fundação, e inclui nove personalidades (sendo apenas duas mulheres) e três instituições.

“A Medalha Rui Barbosa é mais do que uma homenagem. É o reconhecimento de trajetórias que fazem da cultura um campo de transformação social, de fortalecimento da democracia e de construção de futuro. A cultura é onde o país se pensa, se reconhece e se reinventa”, declara Alexandre Santini, presidente da instituição, em comunicado.

Jornalistas homenageados 

A lista de jornalistas agraciados, em anos anteriores, é extensa e inclui vários nomes de profissionais da Imprensa Nacional. Entre os nomes mais conhecidos estão Ancelmo Gois (2024) e Bernardo Mello Franco (2023), de O Globo, que receberam a honraria recentemente. A entidade de jornalismo ABI da Bahia teve o privilégio de ser escolhida por duas vezes, em 1950 e 2023. Em 1998, o professor da José Marques de Melo recebeu a medalha Rui Barbosa pelo seu legado acadêmico e cultural, ele foi cofundador da Escola de Comunicações e Artes, da Universidade de São Paulo (ECA-USP), da Intercom e da Orbicom.