Trapaças de Fernando Collor inspiram reportagem em podcast

Redação | 25/04/2025 17:03

A prisão do ex-presidente Fernando Collor de Mello, determinada na quinta-feira (24) pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, lançou novas luzes sobre um personagem que vem atraindo muito interesse nas plataformas de streaming. Depois do podcast “Collor Versus Collor”, lançado pela Globoplay em 2023, novos produtos baseados no breve e conturbado governo do político alagoano (1990-1992), que resultou no primeiro impeachment da história republicana do país, já surgiram ou estão em produção. Envolvem gigantes da produção audiovisual brasileira, como o cineasta Fernando Meirelles, da O2 Filmes.


O mais recente dos produtos já lançados é o podcast “Trapaça — A Guerra dos Collor”, com todos os episódios já disponíveis. Realizado pela Plataforma Brasília, site jornalístico criado pelo atual consultor político e escritor Luís Costa Pinto, ele narra a investigação que o jovem Lula, então com 23 anos de idade e repórter da revista Veja, iniciou em maio de 1992 e levou à queda de Fernando Collor apenas cinco meses depois. História que começa na entrevista-denúncia de seu irmão Pedro, obtida com persistência e habilidade do repórter. Nela, o presidente é acusado de envolvimento com o esquema de corrupção de seu amigo, parceiro e tesoureiro de campanha Paulo César Farias, o “PC".


A trama acompanha tudo que aconteceu no frenético 1992, depois que a denúncia de Pedro Collor gerou uma intensa cobertura jornalística e pressionou o Congresso a instalar uma comissão parlamentar de inquérito para apurar os ilícitos. Luís Costa Pinto foi, ao mesmo tempo, testemunha e personagem dos acontecimentos, e seguiu o drama da família Collor até o estado de coma da matriarca Leda e a deposição de seu filho Fernando, o primeiro presidente eleito pelo voto popular depois da ditadura militar e também o primeiro a ser impedido por corrupção. 

 

"Trapaça" é baseada no livro de mesmo nome, que Costa Pinto lançou em 2019, com uma narrativa escrita em primeira pessoa. Agora, ele narra a história dos Collor com a própria voz. Estruturada em oito episódios de 40 a 60 minutos, a série está disponível nas plataformas Spotify, You Tube, Deezer e Apple Podcast. Quem responde pela adaptação e roteiro é o jornalista Gabriel Priolli, que tem longa trajetória na mídia impressa e eletrônica, e foi editor-chefe e diretor de redação de IMPRENSA entre 1987 e 1991.


Crédito:Reprodução



“Não foi pequeno o desafio de converter o livro em podcast", diz Priolli, estreando no jornalismo em áudio aos 72 anos. “O livro de Lula é um fantástico thriller político, com uma intensidade narrativa impressionante, que não deixa o leitor escapar. Minha missão era fazer o mesmo com o ouvinte. Mas o próprio livro me facilitou, porque Lula encontrou soluções de linguagem muito boas, construções de texto engenhosas, e também reproduziu diálogos muito saborosos".


Priolli diz que a adaptação consistiu em, primeiro, “descarnar” os capítulos do livro, encontrando neles a “ossatura” narrativa: as cenas de ação, que movimentam a história. Identificadas, as cenas foram agrupadas nos diversos episódios. No texto de narração, o roteirista sintetizou trechos do relato de Lula, procurando ser o mais fiel possível ao universo vocabular do autor. Esses trechos articulam-se com material de pesquisa, como reportagens, gravações da CPI no Congresso Nacional, comerciais de publicidade, jingles políticos, discursos presidenciais e canções.


“Um traço do livro que acentuamos bastante no podcast é o humor", acrescenta Priolli. “Diversos momentos da narrativa têm comentários sarcásticos sobre a política e o jornalismo, e também autoironia, o que é raro em reportagens, mesmo as de grande fôlego, em livro. Isso deu leveza e atratividade a uma história que não podia ser sisuda, para seduzir todos os tipos de ouvinte". 


O podcast jornalístico foi produzido pela Tímpano Áudio Design, de São Paulo, com desenho de som e mixagens de Kleber Araújo e trilhas sonoras de Luis Santiago Málaga. A produção de artes e gestão de mídias sociais foi de André Cardoso.


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