Correspondente do WSJ em Hong Kong diz ter sido demitida por defender a liberdade de imprensa

Redação Portal IMPRENSA | 18/07/2024 12:44
Correspondente do Wall Street Journal (WSJ) em Hong Kong, a repórter Selina Cheng alegou que foi demitida do jornal com sede em Nova York por ter sido eleita presidente da Associação de Jornalistas de Hong Kong (HKJA, na sigla em inglês).

Especializada na cobertura da indústria automobilística chinesa, Cheng afirma que, antes da demissão, seu editor em Londres havia pedido que ela deixasse de disputar a eleição para presidente da HKJA.

“Ele disse que os funcionários do Journal não deveriam ser vistos como defensores da liberdade de imprensa num lugar como Hong Kong", declarou Cheng à imprensa, acresentando que seu ex-chefe  argumentou que somente em países ocidentais, onde a liberdade de imprensa já está estabelecida, colaboradores do WSJ poderiam assumir tal postura. Ainda segundo Cheng, o editor do veículo americano alegou que, ao defender a liberdade de imprensa em Hong Kong, ela criaria conflitos de interesse.
Crédito: Reprodução CNN americana - Vernon Yuen/NurPhoto/Getty Images
Selina Cheng, em entrevista à imprensa: segundo ela, seu editor alegou que sua atuação sindical causaria conflite de interesse
Criado em 1968, o HKJA tem enfrentado pressão das autoridades de Hong Kong e de meios de comunicação estatais de Pequim. As acusações são de que a entidade ajudou a promover as manifestações antigovernamentais de 2019, quando uma onda de protestos contra a repressão do governo Xi Jinping varreu a ex-colônia britânica e atual província chinesa.

Censura chinesa

Outrora um símbolo asiático de liberdade de imprensa, hoje Hong Kong sofre com assédio, perseguição e censura a jornalistas e veículos de notícias. Um caso emblemático foi o do jornal Apple Daily, principal veículo de imprensa de oposição ao domínio chinês. Seu dono, o empresário Jimmy Lai, foi condenado a cinco anos e nove meses de prisão em dezembro de 2022. O empresário também foi proibido de se tornar diretor de qualquer empresa por oito anos e multado em cerca de R$ 1,4 milhão. 

Para reduzir as penas, Lai foi obrigado a reconhecer grande parte dos argumentos da promotoria. Oficialmente ele foi considerado culpado por fraude, pois teria quebrado o contrato de aluguel da sede do jornal e usado o imóvel para outra empresa. 

Entre defensores da liberdade de imprensa, porém, é consenso que o empresário de mídia foi condenado por ser uma das vozes mais influentes contra a política chinesa em Hong Kong, tendo avalizado a publicação de matérias no Apple Daily denunciando o recrudescimento de práticas repressivas para conter os protestos de 2019 .

Após a cobertura crítica da forma violenta com a qual o governo, sob orientação de Pequim, freou as manifestações populares, o jornal Apple Daily foi fechado em junho de 2021. A medida foi tomada depois de seguidos episódios de assédio judicial movidos por autoridades locais, incluindo uma batida policial em plena redação. O episódio ganhou destaque internacional como símbolo de ataque a veículos de imprensa por regimes autoritários. Além de Lai, outros executivos do jornal foram presos, incluindo Wong Wai-Keung, de 61 anos, que foi condenado a quase dois anos de prisão.

A Human Rights Watch para a Ásia tem criticado a repressão a órgãos de imprensa em Hong Kong. Já o governo britânico retirou os juízes do Reino Unido que atuavam no tribunal de última instância de Hong Kong. A medida foi tomada sob alegação de que manter os magistrados legitimaria a opressão chinesa na ex-colônia britânica.