Atendento a pedidos protocolados em fevereiro último pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP), Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e Associação Brasileira de Imprensa (ABI), o Supremo Tribunal Federal (STF) divulgou os nomes dos profissionais de imprensa supostamente vigiados clandestinamente durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro.
A revelação ocorreu ontem, após nova fase da Operação Última Milha, da Polícia Federal, que investiga justamente a atuação ilegal da Abin no governo Bolsonaro.
Segundo as investigações, a lista de profissinais de imprensa espionados inclui Mônica Bergamo, colunista da Folha, Vera Magalhães, colunista do jornal O Globo, Luiza Alves Bandeira, do DFRLab (Digital Forensic Research Lab), ligado ao Atlantic Council, e Pedro Cesar Batista, do Comitê Anti-imperialista General Abreu e Lima. Também teriam sido espionados profissionais das agências de checagem e jornalismo investigativo Aos Fatos e Lupa.
Crédito: Antonio Cruz/Agência Brasil
As ações clandestinas também teriam tido como alvos ministros do STF (Alexandre de Moraes, Luís Roberto Barroso, Luiz Fux e Dias Toffoli) e parlamentares (Arthur Lira, presidente da Câmara, e seu antecessor, Rodrigo Maia).
Gabinete do ódio
Na nova fase da operação, a PF prendeu agentes que trabalhavam para Alexandre Ramagem quando ele dirigiu a Abin no governo Bolsonaro. Atual deputado federal, Ramagem é pré-candidato do PL à Prefeitura do Rio de Janeiro.
Fazem parte do grupo investigado um sargento do Exército e influenciadores digitais que trabalhavam para o chamado "gabinete do ódio", como é conhecida a estrutura que teria funcionado na gestão do ex-presidente, sob o comando de seu filho Carlos Bolsonaro.
Entre os alvos dos mandados de prisão preventiva e de busca e apreensão, expedidos pelo STF, estão Mateus de Carvalho Spósito, Richards Pozzer, Marcelo Araújo Bormevet, Giancarlo Gomes Rodrigues e Rogério Beraldo de Almeida.
A operação da PF ocorre em paralelo à investigação relativa a joias dadas a Bolsonaro por governos estrangeiros, na qual o ex-presidente foi indiciado semana passada.
De acordo com Alexandre de Moraes, que expediu os mandados de prisão preventiva e de busca e apreensão, os investigados da Operação Última Milha participaram de uma "estrutura espúria infiltrada na Abin, voltada para a obtenção de toda a ordem de vantagens para o núcleo político, produzindo desinformação para atacar adversários e instituições que, por sua vez, era difundida por intermédio de vetores de propagação materializados em perfis e grupos controlados por servidores em exercício na Abin".
Segundo as investigações, os investigados usaram sistemas oficiais da Abin para obter dados que alimentassem campanhas de difamação e desinformação.
Também haveria indícios de que a estrutura da agência foi usada para proteger os filhos do ex-presidente de investigações envolvendo o caso das "rachadinhas" do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), como ficou conhecido o possível do desvio de parte dos salários dos funcionários do gabinete de Flávio, quando deputado estadual no Rio.
A PF também sustenta que a Abin foi usada clandestinamente para proteger outro filho do ex-presidente, Jair Renan Bolsonaro, e para desacreditar o processo eleitoral.