O Relatório de Notícias Digitais do Instituto Reuters este ano se baseia em pesquisas com quase 100.000 pessoas em 47 países, oferece um panorama dos obstáculos que a mídia de notícias enfrenta para aumentar a receita e sustentar os negócios. Como em relatórios anteriores, existe um capítulo específico para o Brasil.
A política do Brasil continua profundamente polarizada após eleições disputadas em 2022, seguida por tentativas de tumultos e a invasão do Congresso Nacional. A propriedade dos meios de comunicação continua concentrada, com grandes conglomerados privados comandando emissoras de rádio, TV, imprensa escrita e online, porém esses negócios estão sob pressão à medida que os hábitos do público mudam.
Entre estas mudanças de hábito, o vídeo está se tornando uma fonte mais importante de notícias online, especialmente para os grupos mais jovens. "Os consumidores estão adotando vídeos porque são fáceis de usar e fornecem uma ampla gama de conteúdos relevantes e envolventes", diz Nic Newman, principal pesquisador do Instituto.
Contudo, o Brasil tem enfrentado problemas com a disseminação de desinformação nas diversas redes sociais, a pesquisa aponta em especial o TikTok e o X como as plataformas de notícias menos confiáveis – 24% dos usuários de ambas. O uso de inteligência artificial generativa para criar imagens e vídeos falsos, visando candidatos ou partidos nas eleições municipais de outubro, também entram na listas das principais preocupações. Em fevereiro, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) emitiu uma decisão proibindo deepfakes de material de campanha eleitoral oficial. O TSE também determinou que qualquer conteúdo multimídia sintético deve ter um rótulo indicando que foi criado usando IA.
Entre as empresas brasileiras, foi destacado que o desenvolvimento rápido da IA levou a Editora Globo a proibir empresas de inteligência artificial de rastrear seu conteúdo para treinar seus modelos generativos, enquanto O Estado de S. Paulo lançou um chatbot que usa seu conteúdo do acervo para responder a perguntas dos leitores.
Por conta de uma mudança na metodologia, que fez com que até leitores que pagavam preços promocionais extremamente baixos fossem considerados assinantes, a tendência de queda na circulação da indústria de jornais foi revertida no ano passado. A média diária de circulação paga dos dez jornais mais vendidos aumentou quase 14% em 2022, para 1,7 milhão, segundo o IVC (Instituto Verificador de Comunicação).
Um estudo encomendado pela FENAJ (Federação Nacional dos Jornalistas) mostrou no inicio do ano que, enquanto 9.500 profissionais foram contratados no ano passado, 10.400 empregos foram perdidos. Houve notícias promissoras sobre segurança, no entanto – a federação descobriu que o número de ataques contra jornalistas caiu 52%, sendo que os políticos são apontados como os responsáveis por 44 dos 181 ataques a jornalistas.
No entanto, o relatório geral do Instituto Reuters demonstra que o jornalismo tem enfrentado estes desafios em vários lugares do mundo. "Este relatório anual chega em um momento em que cerca de metade da população mundial está indo às urnas em eleições nacionais e regionais, e enquanto guerras continuam a ocorrer na Ucrânia e em Gaza. Nestes tempos conturbados, o fornecimento de jornalismo preciso e independente continua sendo mais importante do que nunca e, no entanto, em muitos dos países cobertos pela nossa pesquisa, encontramos os meios de comunicação cada vez mais desafiados pelo aumento da desinformação e da manipulação de informação, baixa confiança, ataques de políticos e um ambiente de negócios incerto", resume Newman.
Aqui estão os principais tópicos do relatório sobre a pesquisa realizada no Brasil:
1.Polarização Política:
a. A política brasileira permanece polarizada após as eleições de 2022, que viram Luiz Inácio Lula da Silva vencer Jair Bolsonaro.
b. Uma pesquisa mostrou que 83% dos brasileiros acreditam que o país está mais dividido do que unido.
2.Evasão de Notícias:
a. A evasão de notícias aumentou para 47%, com o público evitando fontes de notícias tradicionais e redes sociais.
3.Desinformação nas Redes Sociais:
a. O TikTok e o X (antigo Twitter) são vistos como as plataformas menos confiáveis para notícias.
b. Um projeto de lei para regular plataformas digitais e combater a desinformação foi abandonado.
4.Inteligência Artificial e Eleições:
a. Preocupações sobre o uso de IA para criar deepfakes nas eleições municipais de outubro.
b. O Tribunal Superior Eleitoral proibiu deepfakes em campanhas eleitorais e exigiu rótulos para conteúdos gerados por IA.
5.Mudanças na Indústria de Mídia:
a. A circulação de jornais aumentou devido a mudanças nos critérios de contagem de assinantes.
b. O número de ataques contra jornalistas caiu 52%, mas a indústria de mídia ainda enfrenta desafios significativos.
6.Tecnologia e Mídia:
a. Editora Globo proibiu empresas de IA de usar seu conteúdo para treinar modelos generativos.
b. O Estado de S. Paulo lançou um chatbot que usa seu conteúdo publicado para responder perguntas dos leitores.
Fonte: https://reutersinstitute.politics.ox.ac.uk/digital-news-report/2024/brazil?utm_source=meio&utm_medium=email
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