Livro de Natalia Viana traz reflexões sobre o que significou o vazamento do WikiLeaks para o jornalismo

Alexandra Itacarambi | 01/07/2024 07:26

Lançado pela editora Fósforo, o livro-reportagem “O vazamento: memórias do ano em que o WikiLeaks chacoalhou o mundo” da jornalista Natalia Viana, única repórter brasileira a trabalhar com o ativista Julian Assange, traz os bastidores da articulação, relatos dos momentos pré-publicação e o segundo passo do trabalho no Caribe. A autora também faz no livro uma reflexão sobre o papel do jornalismo no Brasil e no mundo.


Assange foi solto na semana passada (24/6), após fazer um acordo com os Estados Unidos. Foram 12 anos de prisão, sendo que nos últimos cinco, ele estava detido na Inglaterra, acusado de ter vazado mais de 700 mil documentos oficiais do governo americano em 2011. Este desfecho recente não consta obviamente no livro, “me importa muito mais que Assange esteja livre”, defende.


A paulistana Natalia Viana é co-fundadora e diretora executiva da Agência Pública e foi a responsável por coordenar junto à imprensa brasileira as publicações de reportagens baseadas nesses documentos. Na ocasião, foram divulgados telegramas das embaixadas americanas ao redor do mundo sobre o Brasil.


Crédito:Reprodução

Natalia conta que todo o trabalho jornalístico que fez como colaboradora do WikiLeaks foi voluntário e que todos os jornalistas que participaram ficaram sob graves riscos. “Fui convidada por uma ligação misteriosa na qual só soube que participaria de um projeto irrecusável, tendo contato com a maior quantidade de documentos que qualquer jornalista já teve contato. Conto isso tudo no livro, que o intelectual Marcos Nobre descreve na orelha como um ‘thriller’. Fui de olhos fechados e faria tudo de novo.”


A seguir, leia a entrevista realizada por email e a programação de lançamento.


IMPRENSA - Quando você começou a escrever o livro “ O Vazamento”? E qual a necessidade de contar esta história?


Natalia Viana - Na verdade, eu escrevi este livro três vezes ao longo dos últimos dez anos. Isso porque acompanhei muito de perto um dos maiores vazamentos da história, o dos documentos secretos das embaixadas americanas. Nunca um vazamento disse respeito a tantos países, mais de uma centena. E vi todo o impacto que essa publicação causou no mundo todo. O vazamento foi fundamental, por exemplo, para a centelha que levou à Primavera Árabe, e às revoltas populares que se seguiram, buscando retomar as ruas e aprofundar a democracia no início da década de 2010. Eu sempre achei que essa história estava muito mal contada e muito mal contextualizada, e principalmente que o excelente trabalho jornalístico que fizemos e a centelha revolucionária tinham ficado esquecidos por trás da obsessão da história da perseguição a Julian Assange. 


IMPRENSA - Existem outros livros sobre o WikiLeaks, como a sua publicação se relaciona com as demais? E como se diferencia?


O meu livro não é sobre o WikiLeaks. Ele é uma autobiografia sobre um ano na minha trajetória jornalística, que foi o projeto mais ambicioso do qual eu participei na vida. Ele conta, claro, os bastidores do vazamento, mas traz também muitas reflexões minhas sobre o que significou aquele vazamento para o jornalismo  mundial e para nós, aqui no Brasil. Eu não escreveria mais um livro sobre o WikiLeaks, mas me interessou escrever outro livro-reportagem depois do Dano Colateral (ed. Objetiva, 2021), que trata da volta dos militares à política através das operações GLO e venceu os Prêmios Direitos Humanos de Jornalismo e Vladimir Herzog. E essa é para mim uma história fundamental para entender não só os eventos fundamentais da década de 2010, mas também como chegamos ao momento atual, em que a extrema direita avança em todo o mundo usando as ferramentas que foram popularizadas naquele momento da revolução digital. Vamos ver qual será o tema do próximo livro!


IMPRENSA - A publicação ganha força com a libertação do Julian Assange, fundador do WikiLeaks, na semana passada? 


Não tenho a menor ideia se a publicação ganha força ou perde. Infelizmente, quando terminei meu livro,  Julian ainda estava preso e por isso a libertação não está narrada ali. Mas sinceramente, me importa muito mais que Assange esteja livre. Foram 14  anos de martírio.

 

IMPRENSA- Você, ou outro jornalista da equipe do WikiLeaks, sofreu algum tipo de punição ou ameaça por ter participado das investigações e do vazamento?


Todos os jornalistas da equipe ficaram sob graves riscos. Alguns tiveram suas comunicações entregues ao departamento de Justiça americano,  outros foram pressionados durante anos a testemunhar contra Assange. Mas quem pagou o maior preço foi mesmo ele, a quem o governo americano decidiu fazer de exemplo para qualquer jornalista que investigue a influência dos Estados Unidos no mundo. 


IMPRENSA- Havia algum contrato formal ou informal sobre o formato do trabalho (horas/trabalho, remuneração, confidencialidade etc)?


Todo o trabalho que eu fiz como colaboradora do WikiLeaks foi voluntário. Fui convidada por uma ligação misteriosa na qual só soube que participaria de um projeto irrecusável, tendo contato com a maior quantidade de documentos que qualquer jornalista já teve contato. Conto isso tudo no livro, que o intelectual Marcos Nobre descreve na orelha como um "thriller". Fui de olhos fechados e faria tudo de novo. 


Serviço:

“O vazamento: memórias do ano em que o Wikileaks chacoalhou o mundo”, Natalia Viana, 344p.

Venda online: https://www.fosforoeditora.com.br/catalogo/o-vazamento/


Pré-lançamento: 

dia 11/7 no Congresso da Abraji (Associação de Brasileira de Jornalismo Investigativo), em São Paulo 

dia 31/7 na Livraria Circulares, em Brasília

Lançamento:

dia 10/8 na Livraria Megafauna, no Centro de SP

dia 13/8 na Livraria Travessa, no Rio de Janeiro


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