Fundador do WikiLeaks, o australiano Julian Assange fez um acordo com a Justiça americana e deixou ontem a prisão de segurança máxima em que estava detido em Londres há 5 anos. Ele havia sido enviado para lá após 7 anos de confinamento na embaixada do Equador no Reino Unido. A informação foi divulgada pelo próprio WikiLeaks. Em troca de sua libertação, Assange teria concordado em se declarar culpado por uma única acusação de crime de disseminação ilegal de material de segurança nacional.
"Este é o resultado de uma campanha global que envolveu trabalho de base, defensores da liberdade de imprensa, legisladores e líderes de todo o espectro político, até as Nações Unidas. (...) Agradecemos a todos que estiveram ao nosso lado, lutaram por nós e permaneceram totalmente comprometidos na luta pela sua liberdade. A liberdade de Julian é a nossa liberdade", diz o texto do WikiLeaks.
Crédito: Reprodução FSP/Ruptly
Cinco anos atrás, Assange foi levado da Embaixada do Equador para prisão de segurança máxima em Londres
Símbolo mundial da luta pela liberdade de imprensa, o australiano havia apresentado em fevereiro deste ano seu último recurso à Justiça britânica para evitar ser extraditado para os EUA.
Após a divulgação de milhares de documentos secretos sobre as guerras no Afeganistão e no Iraque, que acabaram reproduzidos em veículos de notícias de diferentes países, Assange foi acusado pelos EUA de 18 crimes e podia pegar até 175 anos de prisão. O acordo de ontem pode pôr fim a esta extensa disputa judicial.
Enquanto apoiadores do australiano o classificam como um jornalista que expôs crimes de guerra, advogados que representam os EUA afirmam que ele não pode ser tratado como um jornalista comum, pois suas ações colocaram em risco a vida de agentes do governo, e o material publicado pelo WikiLeaks foi obtido incentivando pessoas a roubar documentos.
Criminalização de práticas jornalísticas
Ainda segundo os promotores americanos, o fundador do WikiLeaks estava sendo processado por ajudar, encorajar e conspirar para que seus colaboradores obtivessem documentos ilegalmente, “sem dúvida cometendo crimes graves”.
Por sua vez, Edward Fitzgerald, advogado de Assange, defende que o processo contra seu cliente não tem precedentes legais e criminaliza práticas jornalísticas.
"Assange e o WikiLeaks foram responsáveis pela exposição da criminalidade por parte do governo dos EUA numa escala sem precedentes”, acrescentou Fitzgerald, citando crimes como tortura e execuções extrajudiciais. Dentre os documentos vazados há um vídeo de um ataque de helicóptero pelas forças dos EUA que matou 11 pessoas no Iraque, incluindo dois jornalistas da Reuters.
Se a Justiça britânica negasse o recurso de Assange, sua última esperança para não ser extraditado para os EUA era uma intervenção do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos.
Líderes mundiais, incluindo o presidente Lula, vinham pressionando os EUA e o Reino Unido a encerrar o que chamam de perseguição contra Assange. Trabalhista, o primeiro-ministro australiano, Anthony Albanese, chegou a discutir o assunto com o presidente Joe Biden.
Em agosto do ano passado, John Shipton, pai de Julian Assange, veio ao Brasil para o lançamento do documentário "Ithaka - A Luta de Julian Assange", que retrata a luta da família de Assange para libertar o fundador do WikiLeaks,
No Brasil, Shipton participou de um evento realizado na sede da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), que fica na cidade do Rio de Janeiro.
Além de ter publicado documentos sobre crimes de guerra praticados pelos EUA e países aliados no Iraque e Afeganistão, Assange divulgou informações confidenciais que revelaram que o governo americano espionou a ex-presidente Dilma Rousseff (PT), além de assessores e ministros de seu governo.
No fim de 2022, alguns dos principais veículos de imprensa mundiais publicaram um documento solicitando ao governo dos EUA a anulação do processo contra Assange.
Assinaram a carta, dentre outros, Guardian, New York Times, El País, Le Monde e a revista alemã Der Spiegel. Todos estes veículos publicaram reportagens baseadas no material fornecido pelo WikiLeaks.