Após lutar pela Rússia na guerra da Ucrânia, tchetcheno condenado por assassinato de jornalista tem pena anulada

Redação Portal IMPRENSA | 14/11/2023 14:28
Condenado a 20 anos de prisão por arquitetar o assassinato da jornalista russa Anna Politkovskaia, que trabalhava na equipe investigativa do jornal Novaya Gazeta quando morreu baleada em 2006, o ex-policial de origem tchetchena Serguei Khadzjikurbanov teve sua pena cancelada pelo presidente Vladimir Putin.

A decisão foi uma espécie de prêmio, concedido pelo chefe do Kremlin após Serguei passar meses lutando pela Rússia na Ucrânia.

Advogado do criminoso, Alexei Mikhaltchik explicou à Agência France-Presse (AFP) que seu cliente foi convidado "a assinar um contrato" para participar da guerra na Ucrânia. "Quando o contrato expirou, ele foi perdoado por decreto presidencial".
Crédito: Sergey Ponomarev\AFP-reprodução CNN americana
Acredita-se que Serguei Khadzjikurbanov lutou pela Rússia na guerra da Ucrânia ao lado do grupo Wagner

O criminoso havia sindo condenado pelo assassinto da repórter em 2014. Acredita-se que ele tenha lutado na Ucrânia ao lado do grupo de mercenários Wagner, notório pelo uso de condenados russos em suas tropas. Além de Serguei, outros quatro tchetchenos foram condenados pela morte da jornalista. Rustam Makhmudov, apontado como o homem que efetuou os disparos, está em prisão perpétua.

Guerra da Tchetchênia

A jornalista do Novaya Gazeta foi baleada em Moscou, aos 48 anos, no elevador do prédio em que morava. O assassinato covarde ocorreu após ela publicar uma série de reportagens críticas à política do Kremlin na guerra da Tchetchênia.

O conflito acabou em 2000 com uma vitória russa e a instalação no poder local de uma família aliada a Putin, que comanda o país do Cáucaso até hoje.

Símbolo da liberdade de imprensa na Rússia, o jornal Novaya Gazeta foi fundado por Dmitri Muratov, que em 2021 dividiu com a colega filipina Maria Ressa o Nobel da Paz por sua atuação em favor do jornalismo independente.

No ano passado, o veículo foi fechado após a Rússia adotar uma rígida legislação de imprensa, que foi criticada por observadores e entidades internacionais por ser típica de uma ditadura.

Jornalistas que criticarem a invasão russa à Ucrânia ou mesmo utilizarem a palavra "guerra" para descrever o conflito podem ser punidos com até 15 anos de cadeia. A nova lei levou ao fechamento de inúmeros veículos de imprensa independentes na Rússia.

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