Cobertura da imprensa pode favorecer proliferação de ataques a escolas, alertam pesquisadoras

Redação Portal IMPRENSA | 05/04/2023 16:13
Em resposta aos crescentes ataques com mortes a escolas e creches do país, a Associação de Jornalistas de Educação (Jeduca) tem desenvolvido iniciativas para divulgar os cuidados necessários para a cobertura desse tipo de tragédia. 
 
Depois de publicar em 2019 um miniguia sobre o tema, a entidade realizou em 31 de março o webinário “A cobertura jornalística de ataques a escolas”. O evento contou com a participação das pesquisadoras Catarina de Almeida Santos (UnB – Universidade de Brasília) e Telma Vinha (Unicamp – Universidade Estadual de Campinas). 
Crédito:Reprodução Jeduca
Mais frequentes: 22 ataques a escolas foram evitados no Brasil somente em 2022
As especialistas mostraram que a cobertura da imprensa pode favorecer a proliferação de ataques. Para que isso não ocorra, elas dizem que os veículos jornalísticos não devem exibir repetidamente as imagens do ataque, nem contar a história de vida do agressor ou detalhes do evento. 

Tudo isso pode influenciar outros jovens e adolescentes a fazerem o mesmo, já que a busca por notoriedade geralmente está associada a esse tipo de crime. A grande exposição do agressor na imprensa também consolida o que que especialistas chamam de “santificação” em comunidades extremistas, onde ele passa a ser visto como um exemplo a ser seguido.

Comunidade escolar

A difusão de fotos e vídeos do ataque deve ser igualmente evitada na cobertura dos ataques, pois também funciona como incentivo à repetição desse tipo de tragédia, criando um modelo para outros atentados.

Os especialistas também observam que os jornalistas que cobrem esse tipo de tragédia devem considerar que seu trabalho pode impactar negativamente toda a comunidade escolar. Por isso é preciso cuidado para não amplificar os danos desencadeados pelo ataque. 

Além de evitar a exposição dos agressores e vítimas, as pautas devem focar no que deve ser feito para prevenir ataques. Se houver autorização dos pais e diretores das escolas, é interessante que os jornalistas ouçam professores, estudantes e gestores. 

O webinar da Jeduca também abordou uma pesquisa que contabilizou 22 ataques violentos a escolas brasileiras nos últimos 20 anos. Desse total, 16 foram cometidos por estudantes e 12 por ex-estudantes. Outro estudo mostrou que os casos estão se tornando mais frequentes e que 22 ataques foram evitados pela polícia somente no ano passado. 

Ainda de acordo com as especialistas que participaram do evento, os agressores são em sua maioria jovens de 10 a 25 anos, do sexo masculino, que foram vítimas de bullying, sofreram isolamento social e apresentam transtornos mentais não diagnosticados/acompanhados. Eles se articulam em comunidades online onde há incentivo à violência e à vingança como forma de demonstração de valor.

Veja abaixo a íntegra do webinar realizado pela Jeduca: