Diretor da Jeduca (Associação de Jornalistas de Educação), o jornalista Antônio Gois lança em São Paulo, nesta segunda-feira (8 de agosto), o livro 'O ponto a que chegamos: duzentos anos de atraso educacional e seu impacto nas políticas do presente' (FGV Editora, 208 páginas, impresso R$ 43, ebook R$ 30).
A partir de estudos sobre a desigualdade da educação brasileira, a resistência histórica das elites escravocratas em financiar a escolarização no país, a inconstância nas políticas públicas desde o Império e a cultura de naturalização do fracasso escolar, a obra indica que o sistema educacional brasileiro foi concebido desde a origem para ser desigual e tem como base políticas públicas excludentes, algumas mantidas até hoje.
Cobrindo a pauta educação desde 1996, o autor tem coluna no jornal O Globo e já publicou outros livros sobre o tema, incluindo 'Quatro Décadas de Gestão Educacional no Brasil' e 'Líderes na Escola'. No novo trabalho, Antônio, que é filho do veterano colunista Ancelmo Gois, analisa o atraso da educação brasileira em relação a países desenvolvidos e até a nações vizinhas. E mostra que, ao contrário do senso (quase) comum, a educação pública do passado não era boa. Na verdade, teria sido altamente excludente, promovido elevados níveis de repetência e exibido baixa qualidade de ensino.
Reprovação
"O principal gargalo do sistema estava na primeira série, onde as taxas de reprovação superavam 50% ao longo de quase todo o século XX, fazendo com que apenas uma pequena elite de sobreviventes chegasse ao final de sua trajetória na educação básica", informa o release de lançamento, acrescentando que na década de 60, apenas 6% dos alunos que ingressavam no antigo primário conseguiam concluir o que seria o ensino médio, enquanto hoje 75% dos jovens de 15 a 17 anos frequentam o ensino médio.
Aos que por ventura se sintam desconsolados com as ideias do livro, Antônio Gois adverte que a obra "não necessariamente contradiz a memória individual daqueles que lembram do seu tempo de escola com satisfação". "Algumas poucas ilhas de excelência existiam, e continuam existindo. O argumento central e´ que, como sistema, nunca tivemos educação de qualidade."
O Brasil, segundo o jornalista, perdeu sucessivas oportunidades históricas favoráveis, ao longo de praticamente dois séculos, de ampliar seu financiamento educacional. Tal processo estaria cobrando até hoje um preço alto para o desenvolvimento do país.
Com apresentação do Ministro Luiz Roberto Barroso, a obra também contesta a ideia de que antigamente os professores eram bem pagos, mostrando para isso a cobertura dos jornais da época e pesquisas de satisfação de diferentes períodos sobre condições de trabalho dos docentes.