O Museu da Pessoa e o Instituto Vladimir Herzog lançam, em parceria, o projeto 'Cotidianos Invisíveis da Ditadura', que tem como objetivo resgatar a percepção sobre como pessoas comuns viviam sobre a presença da Ditadura Militar brasileira, que durou de 1964 a 1985, no dia a dia.
Na apresentação do projeto, o Museu destaca que "há pouquíssimas referências" sobre o dia a dia desses cidadãos.
"Baseados na metodologia da história oral, pesquisamos e entrevistamos 15 homens e mulheres cujos ricos relatos mantém viva a memória de nosso país", diz a organização.
Crédito:Arquivo Nacional
Mulher caminha entre guardas
"Elas e eles compartilharam conosco experiências vividas na São Paulo daquele período ditatorial, falando sobre migração, família, política, educação, arte, cultura, trabalho, economia e suas lutas periféricas. Em breve, todos os relatos serão publicados integralmente em nossos canais digitais", completa.
Gabrielle Oliveira de Abreu, historiadora formada pelo Instituto de História da UFRJ e Mestra em História Comparada pela UFRJ, coordenadora da área de Memória, Verdade e Justiça do Instituto Vladimir Herzog, destaca a importância da documentação dessas histórias.
"A historiografia do tema da ditadura, não só estudos acadêmicos, como representações midiáticas, artísticas, a respeito do período, já deram conta de algumas experiências, mas existem outras que ainda estão descobertas, o que demonstra que ainda temos muito a aprender sobre a Ditadura Militar, e que ela foi ainda mais ampla, acometendo mais pessoas do que a gente imagina", disse, em entrevista à Rádio Brasil Atual.
"O projeto tenta dar essa dimensão mais completa do que foi a Ditadura Militar, mostrando que todas as pessoas, direta ou indiretamente, foram afetadas por políticas da Ditadura, ainda que naquele período ou anos depois, após a redemocratização", completa.
Lucas Figueiredo Torigoe, mestre em História Social pela Universidade de São Paulo e coordenador de pesquisas do Museu da Pessoa, explica quem são os participantes do estudo.
"Toda e qualquer pessoa que viveu nesse período. Estamos buscando ampliar o olhar sobre o que foi viver durante esse período nefasto, direta ou indiretamente, todos sofreram. O perfil acaba sendo mais diverso do que a historiografia acabava rodando. Estamos entrevistando taxistas, professores do ensino básico, pessoas que militaram pela causa LGBTQIA+", conta.
"Conseguimos ter contato com mestres de escolas de samba que sofreram muito aqui em São Paulo com a perseguição à cultura. Padres, donas de casa, como viviam, como o regime entrava ou não na casa das pessoas. Bancários que falam sobre os efeitos da inflação. Perfis diversos, que tragam a dimensão que talvez os mais jovens não vejam: que a Ditadura acabou por vitimar todas as pessoas em âmbitos que não pensamos muito no dia a dia."
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