Lançado há 4 anos, o programa de jornalismo investigativo BBC Africa Eye vem obtendo resultados positivos impressionantes. Exibido em 37 canais de TV africanos, ele atrai quase cinco milhões de telespectadores por semana, já ganhou 27 prêmios internacionais e foi indicado ao Emmy em todos os anos desde seu surgimento. Além disso, suas reportagens acumulam mais de 73 milhões de visualizações no Youtube.
Sem falsa modéstia, Vera Kwakofi, editora sênior do programa, afirmou ao Press Gazette, veículo britânico especializado nos bastidores do jornalismo, que “não é exagero dizer que mudamos a cara do jornalismo no continente africano para sempre”.
Entre as pautas que mais fizeram sucesso estão a corrupção no futebol ganense, o trabalho análogo à escravidão no Malawi, massacres governamentais em Camarões, o tráfico de crianças no Quênia, o crime organizado nigeriano e as atividades jihadistas em Moçambique.
Para o editor Tom Watson, o segredo do sucesso é a rejeição ao “jornalismo de paraquedas”, como ele chama coberturas feitas por repórteres estrangeiros que pouco sabem a respeito de países em guerra, sem segurança alimentar ou cujos governos foram alvos de golpes militares. Mesmo assim, fazem suas matérias e rapidamente partem rumo ao aeroporto internacional.
Representação injusta
“Minhas percepções da África costumavam ser enquadradas pelo jornalismo de paraquedas, que foi resumido em uma capa da The Economist de 2017, que descrevia a África como 'O Continente Desesperado'”, disse ele à Press Gazette . “Eu me lembro de minha primeira viagem à África e de perceber que aquela não era uma representação justa. Para começar, a África é um lugar repleto de talento jornalístico.”
Pensando nisso, as reportagens publicadas no Africa Eye são produzidas por uma rede de centenas de jornalistas africanos que trabalham em todo o continente. A equipe no Reino Unido tem menos de dez funcionários, que ajudam a editar o material, treinar jornalistas locais e fornecer financiamento para seus parceiros africanos.
O time também inclui não-jornalistas, que vão além de compartilhar dicas e informações. Eles também fazem entrevistas, gravam e apresentam reportagens. Com esse modelo, o Africa Eye tem conseguido contar histórias que outros veículos estrangeiros sequer chegam perto de investigar.
“Quando montamos o Africa Eye, a coisa mais fácil do mundo seria ir ao clube dos correspondentes locais e trabalhar com nomes estabelecidos. Mas, para nós, não importa se eles são jornalistas treinados ou não”, contou Watson, informando que foi assim que eles ficaram sabendo de professores que forçavam alunas a trocar sexo por notas em universidades africanas. A pauta foi sugerida por uma repórter que havia sido vítima do crime.
Para acessar as reportagens em inglês do Africa Eye clique
aqui.
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