Dois dias após a cobertura das manifestações contra o presidente Jair Bolsonaro, que ficaram conhecidas como #29M, o perfil no Instagram do site de jornalismo independente “Nós, Mulheres da Periferia” foi invadido e teve todas as postagens apagadas.
Crédito:Reprodução / Instagram
A invasão foi percebida na manhã de segunda-feira (31), e no lugar das imagens postadas pelas profissionais que trabalham no site, foram publicadas fotos aleatórias, entre elas, de homens carregando armas. “Nossas postagens, que são um acúmulo de sete anos de trabalho comprometido com as histórias e vozes das mulheres negras e periféricas, foram todas apagadas”, informou o site em nota.
O ataque levou o grupo a buscar formas de reforçar sua segurança digital, o que contará com o apoio da organização Repórteres Sem Fronteiras, que irá ajudar na criação e implementação de um plano de segurança.
Semayat Oliveira, cofundadora do “Nós, Mulheres da Periferia”, deve falar sobre o assunto nesta terça (1º), quando participa da sétima edição do Mídia.JOR 2021, promovido pelo Portal IMPRENSA, das 15h30 às 17h.
O tema do evento é “Como os novos conceitos digitais estão alterando as formas de produção e consumo do jornalismo? O que as novas gerações esperam do jornalismo?”. O debate terá transmissão pelo Youtube TV Cultura e no site do Mídia.JOR: www.portalimprensa.com.br/midiajor.
Motivação
Uma grande mobilização de organizações e pessoas ligadas ao jornalismo, de seguidores, artistas e influenciadores contribuiu para a recuperação da conta do “Nós, Mulheres da Periferia” cerca de 6 horas após a invasão. O conteúdo está sendo recuperado aos poucos.
O grupo acredita que o ataque pode estar relacionado à cobertura dos atos de sábado, porque ocorreram menos de 48h depois e porque no dia das manifestações, o perfil no Instagram recebeu comentários racistas e de apoiadores do governo. Em um deles, um usuário escreveu: “Negras, burras”.
“A RSF apoiou o veículo na busca por soluções junto à plataforma. A invasão ocorreu um dia após a realização da cobertura das manifestações do último sábado (29). Na ocasião, as jornalistas do @nosmdaperiferia relataram terem sofrido ataques racistas e misóginos em comentários nas redes”, escreveu a RSF em seu perfil no Twitter.
O Sindicato dos Jornalistas de São Paulo também se colocou à disposição para apoiar o site independente. “O SJSP, que já contatou as jornalistas, lamenta o ocorrido e se coloca à disposição para tomar as medidas cabíveis. O veículo informou que aguarda as devidas providências. Uma das jornalistas caracterizou o feito como um ataque à liberdade de imprensa e desconhece a origem”.
O “Nós, mulheres da periferia” lembrou que outras mídias independentes tiveram suas contas e sites hackeados nos últimos tempos, como a Ponte Jornalismo e Portal Catarinas.
“O Nós reafirma seus valores como mídia independente, negra e periférica, principalmente nesse momento de pandemia, no qual mulheres negras e da periferia são dos grupos mais atingidos pela crise sanitária. Por isso, precisamos continuar contando nossas histórias, para que mais mulheres tenham acesso à informação como um direito universal”, disse em nota.
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