Iniciativa checa informações em espaços de mídias religiosas

Kassia Nobre | 14/07/2020 09:29
Jornalistas criaram o coletivo Bereia para checar informações em espaços de mídias religiosas. 

A equipe do Bereia acompanha, diariamente, material publicado em mídias de notícias cristãs e conteúdos desinformativos que viralizam em mídias sociais de grupos religiosos.

“É verificado se os conteúdos propagados que causam desconfiança pela temática e o tipo de abordagem são informativos (verdadeiros) ou desinformativos (imprecisos, enganosos, inconclusivos ou falsos)”, explica a editora geral do site, Magali Cunha.

As checagens são transformadas em matérias publicadas no site Bereia. Além disso, o site publica artigos de opinião de especialistas na área de religião e comunicação.

O Portal Imprensa conversou com a jornalista sobre a iniciativa. Segundo Magali, a recepção do coletivo tem sido muito positiva.

“Há muito poucas críticas de pessoas religiosas incomodadas com a avaliação crítica de religiosos que os conteúdos do Coletivo Bereia provoca. O coletivo recebe muitos e-mails e mensagens por mídias sociais solicitando verificações, o que mostra a acreditação que o trabalho tem gerado nos leitores”, complementa. 

Crédito:Divulgação Bereia


Portal Imprensa - Bereia é um coletivo especializado em checagens religiosas. Como
surgiu a ideia da iniciativa? Quem faz parte dela? Por que o nome Bereia?
Magali Cunha - A organização Paz e Esperança, preocupada com a intensa propagação de conteúdos caracterizados como desinformação (mentiras, material enganoso, impreciso e inconclusivo) em espaços de mídias religiosas, tomou a iniciativa de articular jornalistas evangélicos para o desenvolvimento de uma ação específica. O grupo se reuniu e criou o Coletivo Bereia.

O nome Bereia é simbólico para os evangélicos. Faz referência a uma cidade grega, localizada na região da Macedônia, citada no livro da Bíblia dos Atos dos Apóstolos, no Novo Testamento. O texto registra um elogio aos judeus de Bereia, que participavam das reuniões promovidas por cristãos, não apenas por sua abertura para ouvir os novos ensinamentos. Os bereanos foram reconhecidos porque, eles mesmos, examinavam as Escrituras, diariamente, para verificar se o que o apóstolo Paulo e seus companheiros diziam estava correto.

O conselho editorial do site é formado por cientistas sociais, teólogos, jornalistas que atuam no campo da mídia e da religião, dentre os quais, Joana Puntel, docente no curso de Especialização Cultura e Meios de Comunicação do Serviço de Pastoral à Comunicação (SEPAC) e autora do livro “Cultura midiática e igreja: uma nova ambiência”; o jornalista Sérgio Pavarini, idealizador do Pavazine, um clipping semanal sobre política, religião, arte e cultura e do Pavablog; e a jornalista Marília de Camargo César, especializada em economia e negócios, autora de livros na área de espiritualidade cristã e histórias corporativas.

A editora geral do site sou eu. Sou jornalista e coordenadora do Grupo de Pesquisa Comunicação e Religião, da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (INTERCOM). A equipe é formada por jornalistas, estudantes de comunicação e voluntários de outras áreas de formação das ciências humanas e sociais.

O Coletivo Bereia tem o apoio das seguintes organizações: Agência Latino Americana e Caribenha de Comunicação (ALC); Associação Católica de Comunicação – Brasil (SIGNIS); Associação Mundial para a Comunicação Cristã – América Latina (WACC-AL, na sigla em inglês); Grupo de Pesquisa Comunicação e Religião da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (GP Comunicação e Religião – Intercom); e Paz e Esperança Brasil.

Portal Imprensa - Como é feito a curadoria das informações que são checadas? Vocês buscam informações em grupos específicos? E a divulgação? Vocês divulgam em alguma plataforma?
Magali Cunha - A equipe do Bereia acompanha, diariamente, material publicado em mídias de notícias cristãs e conteúdos desinformativos que viralizam em mídias sociais de grupos religiosos. É verificado se os conteúdos propagados que causam desconfiança pela temática e o tipo de abordagem são informativos (verdadeiros) ou desinformativos (imprecisos, enganosos, inconclusivos ou falsos). Destaque para a seção “Torre de Vigia”, dedicada a monitorar notícias e pronunciamentos de pessoas que possuam mandato, ou ocupem cargos de confiança na gestão pública, e se identifiquem a partir de sua filiação religiosa. O Bereia monitora, por exemplo, deputados e senadores da Frente Parlamentar Evangélica e da Frente Parlamentar Mista Católica Apostólica Romana e ministros de Estado com vinculação religiosa.

As checagens são transformadas em matérias publicadas no site Bereia – www.coletivobereia.com.br.  Além disso, o site publica artigos de opinião de especialistas na área de religião e comunicação na seção Areópago.

Portal Imprensa - Como foi a recepção das pessoas religiosas?
Magali Cunha - A recepção tem sido muito positiva. Há muito poucas críticas de pessoas religiosas incomodadas com a avaliação crítica de religiosos que os conteúdos do Coletivo Bereia provoca. O coletivo recebe muitos e-mails e mensagens por mídias sociais solicitando verificações, o que mostra a acreditação que o trabalho tem gerado nos leitores. 

Tem sido importantes os convites para palestras e participações em debates de universidades, de grupos religiosos e até de políticos que estão tomando conhecido do serviço oferecido pelo Coletivo Bereia. Atualmente firmamos duas parcerias: uma com a Rede Católica de Rádio, no Programa jornalístico Brasil Hoje, que criou o quadro Joio ou Trigo? Com a participação semanal do Coletivo com matéria de destaque na semana, explicando aos ouvintes como desconfiar de conteúdos como esse. A outra é com o Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal de Pernambuco, no Projeto Coronavírus em Xeque, um programa de rádio que discute desinformação sobre a pandemia. O Coronavírus em Xeque publica matéria semanal do Coletivo Bereia relacionada à Covid-19.

Portal Imprensa – Vocês recebem apoio financeiro de algum projeto ou empresa?
Magali Cunha - Até o momento o trabalho é 90% voluntário. Temos o apoio da organização Paz e Esperança para manter o site no ar e para oferecer pro-labore a dois estudantes que cuidam da assistência editorial e da manutenção de mídias sociais. Nosso objetivo é consolidar o Coletivo para buscarmos financiamento darmos mais substância e estrutura ao trabalho.

Portal Imprensa - Qual é a importância do combate à desinformação no ambiente religioso que muitas vezes é fundamentalista? Há resistência deste público na aceitação dessas checagens?
Magali Cunha - A questão é que há cristãos que espalham notícias falsas para defender seus interesses públicos e ainda usam conteúdo religioso como capa para essas ações criminosas, utilizando-se da fé das pessoas de boa vontade que estão nas igrejas. E ainda debocham da fé cristã ao usarem e abusarem das palavras de Jesus “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” (João 8.32). Mas por que pessoas cristãs acreditam e ainda ajudam a divulgar e a consolidar as mentiras da internet? É fato que pessoas cristãs são pessoas crentes, que acreditam não só em Deus mas nas lideranças que falam sobre Ele e nos grupos que estão nas igrejas em torno Dele.

Com isso, muita gente abusa da boa fé, especialmente daqueles que acabam tendo uma fé ingênua por não terem contado com uma educação cristã consistente, para a crítica. Iniciativas como o Coletivo Bereia, Informação e Checagem de Notícias, são importantes pois ajudam pessoas das igrejas a identificarem falsidades e enfrentá-las.

Na Bíblia cristã, a orientação é que espalhar mentiras é um grande pecado, algo que desagrada Deus, o que Jesus atribui como ação do diabo, palavra que significa confusão, classificado como pai da mentira (João 8.44).

São muito poucas as manifestações críticas ao serviço oferecido pelo Coletivo Bereia. Há mais apoios e demandas de colaboração.  

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