Após a publicação de cinco charges críticas à violência policial, o jornal Folha de S. Paulo e os cartunistas Laerte, João Montanaro, Alberto Benett e Claudio Mor estão sendo interpelados na Justiça.
As charges foram publicadas em dezembro de 2019, após a ação policial que deixou nove mortos em Paraisópolis, São Paulo.
Segundo a Folha, seis meses depois, uma Associação de Oficiais Militares do Estado de São Paulo em Defesa da Polícia Militar, Defenda PM, entrou na Justiça com pedido de esclarecimento criminal para o Grupo Folha e os artistas.
"Considerei uma interpelação impertinente, autoritária e decodificada de lógica", afirma o advogado Luís Francisco de Carvalho Filho, que representa o jornal. "A intenção de quem faz isso é intimidar a imprensa".
A Defesa da PM foi questionada pela reportagem da Folha sobre como motivar o pedido de esclarecimento criminal seis meses depois da publicação das acusações, sobre o potencial intimidatório da medida, comprometendo a liberdade de imprensa e expressão, e sobre o comportamento ideológico da entidade. A associação não quis responder aos questionamentos.
Charges
A charge de João Montanaro foi publicada na edição de 9 de dezembro de 2019 da Folha e faz alusão ao racismo, a maioria dos nove jovens mortos na ação policial em Paraisópolis era negra.
Para o chargista João Montanaro, as questões "parecem frutos de uma falta de interpretação visual". E, além disso, são "sintoma de toda essa atmosfera que estamos vivendo".
Benett afirmou que "Se estamos contando uma história por meio de um desenho, explicamos-lhe é matar uma ideia e sua interpretação." A charge de Benett foi publicada na edição de 12 de dezembro de 2019 e ironizou a repercussão dos cartuns frente à violência policial registrada em Paraisópolis.
A charge do cartunista Claudio Mor publicada na edição de 6 de dezembro de 2019 abordou o abuso policial na esteira ação da Polícia Militar em Paraisópolis.
"O chargista reage a uma ação. A gente não inventa notícias, mas se baseia nas críticas e críticas. Então, eu vejo esse caso como uma tentativa de censura", diz Claudio Mor.
A charge da cartunista Laerte foi publicada na edição de 03 de dezembro de 2019, três dias após a ação policial durante um baile funk na favela de Paraisópolis.
Para Laerte, o gesto do pedido de esclarecimento "está sintonizado com o momento de crescimento de uma situação autoritária no Brasil".
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