Diante de simpatizantes e jornalistas em frente ao Palácio da Alvorada, o presidente Jair Bolsonaro insultou, com insinuação sexual, a jornalista Patrícia Campos Mello, da Folha.
“Ela [repórter] queria um furo. Ela queria dar o furo a qualquer preço contra mim [risos dele e dos demais]”, disse.
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A fala é uma referência ao depoimento prestado na CPI das Fake News, na semana passada, por Hans River do Rio Nascimento, um ex-funcionário da Yacows, empresa de marketing digital que atuou nas eleições de 2018. Patrícia é responsável por uma série de reportagens que indicou que diferentes empresas, incluindo a Yacows, fizeram uso fraudulento de nome e CPF de idosos para disparar mensagens em massa para políticos via WhatsApp.
“O presidente da República agride a repórter Patrícia Campos Mello e todo o jornalismo profissional com a sua atitude. Vilipendia também a dignidade, a honra e o decoro que a lei exige do exercício da Presidência”, disse a Folha em nota.
Diversas entidades de imprensa e sociedade civil prestaram solidariedade à jornalista.
“Os ataques aos jornalistas empreendidos pelo presidente são incompatíveis com os princípios da democracia, cuja saúde depende da livre circulação de informações e da fiscalização das autoridades pelos cidadãos. As agressões cotidianas aos repórteres que buscam esclarecer os fatos em nome da sociedade são incompatíveis com o equilíbrio esperado de um presidente”, diz a nota conjunta assinada pela diretoria da Abraji e pelo Observatório da Liberdade de Imprensa da OAB.
A Aner (Associação Nacional dos Editores de Revistas) e a ANJ (Associação Nacional dos Jornais) também protestaram contra as declarações do presidente.“Como infelizmente tem acontecido reiteradas vezes, o presidente se aproveita da presença de uma claque para atacar jornalistas, cujo trabalho é essencial para a sociedade e a preservação da democracia”, diz o comunicado das entidades.
CPI das Fake News
A jornalista e o diretor de Redação da Folha, Sergio Davila, foram orientados pelo departamento jurídico do jornal a não se pronunciarem. Patrícia, inclusive, não vai participar amanhã do 3º Encontro Folha de Jornalismo para acompanhar o depoimento dos sócios-proprietários da empresa Yacows Flávia Alves e Lindolfo Antônio Alves Neto na CPI das Fake News. O depoimento está marcado para começar às 13h, no plenário 2 do Senado.
O presidente da CPI, senador Angelo Coronel, apresentou um requerimento pedindo a reconvocação de Hans para que ele seja submetido a novos questionamentos. Caso fique comprovado que prestou falso depoimento na comissão, poderá até ser preso.
Já a relatora da CPI, Lídice da Mata pediu ao Procurador-Geral da República, Augusto Aras, a abertura de uma investigação contra Hans por falso testemunho na comissão.
No mesmo dia do depoimento de Hans insultando a jornalista, a Folha publicou novas reportagens que comprovaram, com cópias de mensagens, áudios e planilhas, as mentiras ditas pelo ex-funcionário da Yacows na comissão.
No mesmo dia do depoimento de Hans (11/02), o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente Jair Bolsonaro, aproveitou o episódio para fazer insinuações sexuais contra Patrícia.
Na quinta-feira (13/03), a jornalista comentou a situação em entrevista ao
podcast Café da Manhã. “Nas mensagens, não só eu não me insinuei, como ele se insinuou. Eu tenho isso registrado em mensagem e eu não respondi”, disse.