Bolsonaro quebrou o decoro ao insultar Patrícia Campos Mello, diz Folha

Redação Portal IMPRENSA | 18/02/2020 13:27
Diante de simpatizantes e jornalistas em frente ao Palácio da Alvorada, o presidente Jair Bolsonaro insultou, com insinuação sexual, a jornalista Patrícia Campos Mello, da Folha.

“Ela [repórter] queria um furo. Ela queria dar o furo a qualquer preço contra mim [risos dele e dos demais]”, disse. 

Crédito:Reprodução YouTube
A fala é uma referência ao depoimento prestado na CPI das Fake News, na semana passada, por Hans River do Rio Nascimento, um ex-funcionário da Yacows, empresa de marketing digital que atuou nas eleições de 2018. Patrícia é  responsável por uma série de reportagens que indicou que diferentes empresas, incluindo a Yacows, fizeram uso fraudulento de nome e CPF de idosos para disparar mensagens em massa para políticos via WhatsApp.

“O presidente da República agride a repórter Patrícia Campos Mello e todo o jornalismo profissional com a sua atitude. Vilipendia também a dignidade, a honra e o decoro que a lei exige do exercício da Presidência”, disse a Folha em nota.

Diversas entidades de imprensa e sociedade civil prestaram solidariedade à jornalista.  

“Os ataques aos jornalistas empreendidos pelo presidente são incompatíveis com os princípios da democracia, cuja saúde depende da livre circulação de informações e da fiscalização das autoridades pelos cidadãos. As agressões cotidianas aos repórteres que buscam esclarecer os fatos em nome da sociedade são incompatíveis com o equilíbrio esperado de um presidente”, diz a nota conjunta  assinada pela diretoria da Abraji e pelo Observatório da Liberdade de Imprensa da OAB. 

A Aner (Associação Nacional dos Editores de Revistas) e a ANJ (Associação Nacional dos Jornais) também protestaram contra as declarações do presidente.“Como infelizmente tem acontecido reiteradas vezes, o presidente se aproveita da presença de uma claque para atacar jornalistas, cujo trabalho é essencial para a sociedade e a preservação da democracia”, diz o comunicado das entidades. 

CPI das Fake News

A jornalista e o diretor de Redação da Folha, Sergio Davila, foram orientados pelo departamento jurídico do jornal a não se pronunciarem. Patrícia, inclusive, não vai participar amanhã do 3º Encontro Folha de Jornalismo para acompanhar o depoimento dos sócios-proprietários da empresa Yacows Flávia Alves e Lindolfo Antônio Alves Neto na CPI das Fake News. O depoimento está marcado para começar às 13h, no plenário 2 do Senado. 

O presidente da CPI, senador Angelo Coronel, apresentou um requerimento pedindo a reconvocação de Hans para que ele seja submetido a novos questionamentos. Caso fique comprovado que prestou falso depoimento na comissão, poderá até ser preso.

Já a relatora da CPI, Lídice da Mata pediu ao Procurador-Geral da República, Augusto Aras, a abertura de uma investigação contra Hans por falso testemunho na comissão.

No mesmo dia do depoimento de Hans insultando a jornalista, a Folha publicou novas reportagens que comprovaram, com cópias de mensagens, áudios e planilhas, as mentiras ditas pelo ex-funcionário da Yacows na comissão.


No mesmo dia do depoimento de Hans (11/02), o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente Jair Bolsonaro, aproveitou o episódio para fazer insinuações sexuais contra Patrícia. 

Na quinta-feira (13/03), a jornalista comentou a situação em entrevista ao podcast Café da Manhã. “Nas mensagens, não só eu  não me insinuei, como ele se insinuou. Eu tenho isso registrado em mensagem e eu não respondi”, disse.

Segundo Patrícia, esses ataques foram muito mais graves do que outros que sofreu por conta de reportagens. “Dessa vez, eu acho muito mais grave porque você tem um deputado federal dizendo no plenário da Câmara, com todas as letras, ‘eu não duvido que  a Patrícia Campos Mello tenha se insinuado sexualmente. Não me lembro disso ocorrendo na história. É uma testemunha mentindo na CPMI, que é um crime. O lado bom é que tudo está documentado. Eu tenho documento de tudo”, disse. 


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