Pesquisa recente do Center for Media Engagement, da Universidade do Texas, indicou que o jornalismo de soluções gera maior engajamento dos leitores. Ainda segundo o estudo, os leitores estão cansados de manchetes negativas e notícias pessimistas e esperam que a mídia aponte soluções para os problemas.
O portal IMPRENSA conversou com a jornalista Priscila Pacheco sobre a prática de jornalismo de soluções no Brasil. Ela também deu algumas dicas para estudantes e profissionais que pretendem atuar na área.
Priscila é editora-adjunta na Agência Mural e embaixadora do Hostwriter, organização alemã que incentiva o jornalismo colaborativo. Ela ainda é integrante do Programa de Formadores da Fundação Gabo.
Crédito:Thalita Monte Santo
O que é jornalismo de soluções?
A jornalista explica que jornalismo de soluções não é um movimento ou um modismo. “Na verdade, é uma prática jornalística criteriosa como todo o jornalismo deve ser. A questão é que o fio condutor da reportagem é a resposta a um problema”.
Assim, o jornalismo de soluções pode aparecer em qualquer editoria. Priscila cita o exemplo da reportagem publicada pela BBC Brasil sobre uma iniciativa de estudantes no Nordeste para diminuir a evasão no colégio onde estudam.
“A matéria apresentou dados, informações importantes no decorrer do texto, mas parte de uma iniciativa que tenta contribuir para uma mudança benéfica e pode servir de exemplo para outros lugares. É algo que pode ser replicado”, conta.
A jornalista resume que “o jornalismo de soluções é a cobertura rigorosa e baseada nas evidências das respostas a problemas sociais. Ele não apresenta intenções. É algo que já está tendo algum resultado mesmo que ainda inicial”, pontua.
Cenário brasileiro
Há espaço para trabalhos com foco em jornalismo de soluções no Brasil? Priscila acredita que sim. “Penso que o Brasil vive um momento tão conturbado e, talvez, pessimista, que nós jornalistas estamos tentando o tempo todo aprimorar a nossa cobertura para fazer mais denúncias, fazer mais cobranças, gerar mais impacto e ampliar as checagens para tentar minimizar os resultados negativos que uma desinformação gera. E é nesse cenário que a gente precisa tentar mostrar o que também está sendo feito para melhorar algo. Acredito que há espaço no nosso momento agitado para fazer trabalhos com foco em jornalismo de soluções”.
A profissional afirma que matérias com este foco já são publicadas em veículos brasileiros. Ela cita os trabalhos desenvolvidos na Agência Mural de Jornalismo das periferias, onde trabalha como editora atualmente. Além do Nexo Jornal, BBC Brasil e o programa Cidades e Soluções da Globo News.
“Penso que estamos trilhando um caminho, mas precisamos ampliar. Precisamos ter mais espaço”, complementa.
Dicas
Priscila selecionou algumas dicas para estudantes e jornalistas que estão interessados no tema e que pretendem atuar na área de jornalismo de soluções:
- Quando pensar em uma pauta se perguntar se aquele problema ocorre em diferentes lugares e quais são as respostas que estão dando a ele. Quem está tendo mais êxito para melhorar esse mesmo problema?
- Pensar em qual impacto quer gerar com aquela matéria.
- Precisa ter o senso crítico apurado, pesquisar bastante, apurar os dados daquele problema que está tendo alguma iniciativa com foco em solução. Conversar com especialistas que não estejam envolvidos nas iniciativas citadas na pauta.
- Tomar cuidado para não produzir algo estilo publireportagem ou release. A nossa missão não é fazer propaganda nem endeusar ninguém, mas em um piscar de olhos você pode fazer isso e desencaminhar a reportagem.
- É preciso ter em mente que não há solução perfeita, que algo terá pontos fortes e fracos. Mas precisa ter evidência suficiente para sustentar a credibilidade.
- Pensar na conexão com a audiência. Um jornalista pode planejar ações de conexão com a audiência que podem ser implementadas desde o momento da apuração até o pós-publicação, por exemplo.
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