Visando mostrar como os principais grupos de comunicação do Brasil se posicionaram em suas coberturas jornalísticas da reforma da Previdência, o Intervozes - Coletivo Brasil de Comunicação Social realizou o estudo Vozes Silenciadas: Reforma da Previdência e Mídia, que analisou a forma como o tema foi tratado pelos jornais impressos Folha de S.Paulo, O Estado de S.Paulo e O Globo, e na cobertura televisiva do Jornal Nacional (Rede Globo), do Jornal da Record (Rede Record) e do SBT Brasil (SBT).
Na mídia impressa a análise foi feita entre os dias 1º de janeiro a 30 de junho. Entre os especialistas ouvidos nas reportagens, 64% posicionaram-se favoravelmente à reforma da Previdência; 8,5% foram parcialmente contrários (mesmo índice de posicionamentos não identificados) e 19% eram expressamente contra a proposta.
Na cobertura televisiva as análises foram feitas nos dias subsequentes a fatos importantes da reforma da Previdência, como a apresentação do projeto no Congresso, a aprovação do Relatório pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), e a aprovação da PEC 06/2019 pelo Plenário da Câmara dos Deputados.
De acordo com o levantamento do Intervozes, nos telejornais as edições focaram na explicação dos pontos do projeto e concederam grande espaço para declarações de representantes do Ministério da Fazenda, com raros contrapontos à posição do governo. Dentre os especialistas ouvidos nos telejornais, 90% se manifestaram favoravelmente à reforma.
A pesquisa também revelou acentuada disparidade de gênero entre os especialistas ouvidos. Nos jornais impressos, 88% eram homens. De acordo com o estudo, "esse dado se agrava quando se leva em conta que as mulheres são as mais afetadas com as mudanças propostas pela reforma da Previdência".
Rodolfo Vianna, responsável pela pesquisa divulgada pelo Intervozes, ressalta que houve uma correspondência entre a posição editorial dos veículos de comunicação (expressas em seus editoriais) e a opinião dos especialistas majoritariamente ouvidos em suas coberturas sobre a reforma da Previdência. Para ele, é necessário apresentar contrapontos, principalmente quando é mobilizada a figura do 'especialista', que usufrui de prestígio em pautas específicas.
"Os dados revelados apontam a necessidade de uma maior pluralidade de posicionamentos", pontua Viana, acrescentando que visões distintas daquelas defendidas editorialmente por determinado veículo de comunicação são "fundamentais para o fortalecimento do debate de ideias e projetos e para o fortalecimento da esfera pública como instância de mediação dos conflitos políticos."