A próxima Classificação Internacional de Doenças (CID-11) da Organização Mundial de Saúde (OMS) revisa a definição da síndrome de burnout, ou esgotamento profissional, na lista de problemas associados ao emprego ou à falta dele. Nela, a síndrome é enquadrada como "fenômeno ligado ao trabalho".
A nova classificação entra em vigor em 2022 e já é considerada uma sinalização positiva por aqueles que lidam com situações envolvendo o problema no mercado de trabalho. Psicóloga e presidente da International Stress Management Association (Isma-BR), Ana Maria Rossi, destaca que a decisão "pode dar um embasamento maior para os juízes decidirem questões trabalhistas relacionadas com a saúde mental".
Ligada a um estresse crônico no trabalho, característico de algumas profissões, a síndrome vem ganhando mais visibilidade a cada ano no meio jornalístico. O caso mais emblemático envolvendo uma profissional do setor foi o da jornalista Izabella Camargo. Após ser demitida da TV Globo, ela desabafou, revelando ter a doença. Mas outros profissionais da área sofrem com o problema mesmo sem revelar o diagnóstico.
A situação é antiga. Em 2010, o tema foi assunto de matéria no jornal New York Times e a coordenadora do programa de mídia digital da Escola de Jornalismo da Universidade de Columbia, Duy Linh Tu, já demonstrava preocupação com o assunto.
O Portal IMPRENSA conversou com João Silvestre Silva-Junior, diretor da Associação Nacional de Medicina do Trabalho (ANAMT) e perito médico do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), sobre o tema. Ele destacou que a discussão sobre o esgotamento profissional tornou-se mais frequente no Brasil na última década.
No caso específico dos profissionais de comunicação, Silva-Junior elenca alguns fatores psicossociais que contribuem para o risco da doença: "Longas jornadas de trabalho, insegurança dos vínculos de trabalho, a baixa remuneração, pouca autonomia sobre o trabalho (prazos curtos), e outras características que podem comprometer a saúde dos trabalhadores".
Assim como os jornalistas, várias profissões compartilham desse risco. Em comum, os profissionais que atuam nestas áreas lidam com aspectos como alta demanda qualiquantitativa do trabalho sem um controle para organizar tais tarefas, desequilíbrio entre esforços e recompensas, excesso de comprometimento e, principalmente, baixo apoio/suporte entre colegas e/ou chefias. "Em algumas profissões específicas, a cobrança na prestação de serviço com risco de violência pode ser bastante agressiva para a saúde mental", destacou Silva-Junior.
Pesquisa realizada pela Isma-BR indicou que, no cenário profissional geral do país, 72% dos brasileiros no mercado de trabalho sofrem alguma sequela pelo estresse. Desses, 32% sofreriam de burnout, sendo que 92% das pessoas acometidas pela síndrome continuariam trabalhando.
"O esgotamento profissional está diretamente ligado às condições adversas no trabalho. A melhor prevenção é melhorar o ambiente físico e psicossocial do trabalho. Para os trabalhadores sob risco, é necessário fazer prevenção primária, com orientações para relaxamento físico e mental. Todavia isso é 'enxugar gelo' se não houver melhora das condições de trabalho. Para aqueles que estão com sinais e sintomas do estresse, é necessário fazer prevenção secundária, com encaminhamento para acolhimento de profissionais de saúde. Nos casos graves, a prevenção terciária discute a reinserção produtiva de pessoas que estão com uma doença instalada que impacta sua capacidade profissional", finalizou o especialista.
Crédito: Divulgação
João Silvestre Silva-Junior é diretor da Associação Nacional de Medicina do Trabalho (ANAMAT)
Nota da redação: O título da matéria foi atualizado às 14h01.
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