*A jornalista Sonia Blota, da TV Band, recebeu o prêmio de melhor correspondente no
13° Troféu Mulher IMPRENSA, no dia 14 de agosto, no Teatro Sérgio Cardoso, em São Paulo. Para ela, a homenagem deste ano foi ainda mais especial por coroar seu período em Paris, capital francesa, sobretudo no ano em que retorna ao Brasil para reforçar o time de repórteres de campo da emissora.
Em entrevista ao Portal IMPRENSA, a comunicadora falou ainda sobre os motivos que levaram-na a entrar no ramo, os desafios da cobertura jornalística, as pautas que a marcaram nestes 24 anos de carreira, Sonia também citou os jornalistas que admira e deu dicas a quem quer ingressar na profissão.
Crédito:Elisa de Paula / IMPRENSA Editorial
“Me sinto privilegiada e muito especial desta vez. Todas as premiações foram extraordinárias, mas nesta [edição] vai coroar quase sete anos de trabalho em Paris. Então, no ano em que a gente retorna [ao Brasil], ganhar o Troféu Mulher Imprensa como melhor correspondente, um troféu que é muito importante, que tem significado enorme para as mulheres, para as jornalistas, num meio tradicional... Para mim, é muito especial. É um prêmio pelo qual sempre tive muito carinho, e receber o primeiro como correspondente é magnífico... É emocionante”, disse.
Este foi o quarto Troféu Mulher IMPRENSA que a jornalista e advogada levou para casa, e o primeiro como correspondente. Os demais foram conquistados na categoria de repórter de telejornal, nas edições de 2005, 2008 e 2009 da premiação – que é concedida pelo Portal IMPRENSA como forma de valorizar e reconhecer o trabalho de mulheres, num meio tradicional, segundo a definição da própria homenageada.
O sonho de comunicar
Neta de Blota Junior, um polivalente da comunicação (foi jornalista, locutor, apresentador, político, empresário), Sonia iniciou os estudos em direito paralelamente ao jornalismo, mas apenas para agradar a família. “Para falar a verdade, eu fiz direito para agradar a minha família. O meu avô também cursou, no entanto, ele foi de uma época em que só existiam três faculdades no Brasil: engenharia, direito e medicina. Então, você tinha de ser doutor de alguma forma”, contou, aos risos. “Eu sempre quis ser jornalista. Na verdade, eu sempre quis ser repórter - sempre foi o grande sonho da minha vinha”.
Aos nove anos ela ganhou um gravador que “mimou mais que as bonecas”. Perguntei-a se isso tinha a ver com o rádio, meio de comunicação que também compõe sua trajetória no jornalismo, e ela brincou dizendo que o “importante era ter a ver com a fala, [já] que mulher de gêmeos é comunicativa”.
A carreira
Sonia conta com 24 anos de carreira na cobertura jornalística, a qual foi iniciada no SBT, em 1994, quando ainda cursava as duas faculdades, “com o pique dos 17, 18 anos [de idade]”, e trocou o trabalho como trainee em consultoria na Price Waterhouse pela proposta de estágio na emissora de Silvio Santos.
Do SBT, ela foi para a EPTV, afiliada do Grupo Globo, em São Carlos, no interior de São Paulo. Lá trabalhou por três anos, os quais serviram como “uma escola” da cobertura diária, conforme definiu. De lá, a jornalista foi para o Grupo Bandeirantes de Comunicação, onde atua há 20 anos – comemorados em fevereiro.
Das coberturas que marcam
Perguntada sobre as coberturas mais desafiadoras e marcantes, ela afirmou que teria de tentar ranquear por setor – visto que cobre economia, comportamento, moda, sociedade turismo. Entretanto, Sonia citou algumas coberturas como correspondente e duas neste retorno ao Brasil – datado de fevereiro, inclusive.
“São várias, mas como correspondente, foram os atentados de Paris, principalmente o atentado de Nice. [Nós] chegamos à cena do atentado e havia corpos de crianças estendidos no chão... Outra cena marcante foi agora, quando cobrimos o desabamento do prédio no Largo do Paissandu. Ver tanta gente sem moradia foi um impacto social, de volta [ao Brasil], muito marcante. [Além destas], as matérias de saúde nos marcam demais. Estamos fazendo uma série sobre o câncer, e a coragem dos meus personagens, a lição que eles dão em cada entrevista [marcam]...”, contou.
Sonia citou ainda a cobertura da política brasileira. Segundo ela, Brasília ‘tirou-lhe a inocência’. “Brinco dizendo que perdi minha inocência cobrindo Brasília... É desgastante e a gente tem de se manter firme, tem que informar, mesmo que a gente tenha a nossa opinião”. Sugeri uma definição disso como ‘luta interna’, e ela concordou, completando que “é luta interna e de muita responsabilidade. É o que a gente tenta [ter]... Se eu consegui ou não, o tempo dirá”.
Crédito:Elisa de Paula / IMPRENSA Editorial
Dos ídolos e fiéis companheiros
Sonia tem muitos comunicadores como espelho, muitos colegas a quem é grata e deixou claro que, ao tentar mencionar alguém especificamente, qualquer jornalista certamente cometerá injustiça com um mestre ou outro, um colega ou outro.
Ainda assim, ela destacou quem abriu-lhe portas no mundo da comunicação. “São vários, mas vou citar duas pessoas responsáveis [pela trajetória], já que estamos falando de aniversário de carreira... Duas pessoas que deram um ‘empurrãozinho’ neste meio: Celso Teixeira, quem arrumou meu primeiro estágio, no SBT, e a Leonor Corrêa, quem me arranjou o emprego na EPTV. Ela disse que tinha uma vaga [lá] e pediu para eu mandar a minha fita beta, me disse ‘você tem cara e tem voz’, e eu disse que não sabia fazer [o trabalho em TV], e ela me respondeu ‘você aprende, vai lá e se vira’”.
Por fim, citou seus companheiros de Band, que a ajudam no desenrolar da profissão no bairro do Morumbi: Fernando Mitre (diretor de jornalismo na emissora da família Saad), José Emílio Ambrósio (diretor que enviou-a como correspondente para Paris), André Luiz Costa – que comanda a direção-executiva de jornalismo do Grupo – e seus cinegrafistas, que a ajudam a aprender mais, diariamente, sobre a imagem, o vídeo.
‘Siga o coração’
Pedi que desse uma dica a nós, focas, e a comunicadora afirmou que devemos “seguir o coração e o que quiser. Sempre falo que, para quem quer [atuar na] bancada [de TV], é preciso trilhar um caminho para isso. Se quer ser repórter o caminho é outro. Às vezes, eles se cruzam – o repórter vai virar apresentador e vice-versa”, e considerando o meio de comunicação, “o rádio, a TV, o impresso... Mas [independente dos veículos], acima de tudo, jornalista. O meio é que vai te escolher”.
Mas jornalismo é, sobretudo, jogo de cintura
Em abril deste ano, dois meses após retornar ao Brasil para reforçar a reportagem local da Band, Sonia foi às ruas para a cobertura da prisão do ex-presidente Lula, em São Bernardo do Campo (SP), e levou
uma ovada de militantes.
Sobre este episódio e os desafios da cobertura jornalística, por si só, ela destacou que é preciso ter cuidado com o que é colocado nas redes sociais, “porque a gente pode ser mal interpretada. [Mas] ao mesmo tempo, não podemos nos submeter às outras pessoas, que também colocam [nas suas redes] o que bem entendem. A gente tem uma história, e essa história tem de ser respeitada”, e que “[os manifestantes presentes] viram que eu estava ao vivo. [Só que] eu era apenas mais uma porta-voz do que estava acontecendo, não estava dando nenhuma opinião – se o Lula tinha de ser preso, ou ser solto –, não estava, e quem conhece minha trajetória sabe, mas paguei por isso. Temos de estar prontos para essas coisas também... Foi uma grande injustiça, mas tive apoio do sindicato e colegas se manifestaram nas redes sociais, e é aí [neste momento] que a gente sabe da nossa história, da nossa trajetória. É quando vemos quanta gente nos respeita. Aquilo [a ovada] ficou para a minoria da [minha] história”, finalizou.
Troféu Mulher IMPRENSA
Promovido pela Revista e Portal IMPRENSA, o prêmio tem como missão difundir o trabalho das mulheres na comunicação em todo o Brasil, e é a única premiação jornalística do Brasil dedicada exclusivamente ao público feminino. São 17 categorias que visam homenagear as profissionais de destaque em cada setor da mídia.