Conto escrito pelo jornalista Marco de Castro, em 2004, inspirou longa-metragem de horror "Morto Não Fala"

Marcia Rodrigues | 20/07/2018 08:42

Quando o jornalista Marco de Castro escreveu o conto “Morto Não Fala” entre uma e outra pausa que tinha na redação antiga do jornal Agora São Paulo, em 2004, não imaginava que ele serviria de inspiração para um longa-metragem de horror nas mãos do diretor Dennison Ramalho e produzido pela Globo Filmes. 

Crédito:Divulgação


O filme, que teve estreia mundial no dia 17 de julho, na mostra competitiva do Fantasia International Film Festival, no Canadá, conta a história de um plantonista do IML de Artur Alvim, Zona Leste de São Paulo, que conversa com os cadáveres.


O jornalista, que foi repórter policial de 2000 a 2006, no Agora São Paulo, conta que na época que escreveu o conto, trabalhava na cobertura policial, mas não se inspirou em nenhum caso específico que acompanhou na sua carreira. 


“Escolhi o IML da zona leste como cenário por achar ele o mais sinistro. No mais, posso dizer que os assassinatos e o diálogo do protagonista com traficantes foram inspirados em diversas reportagens policiais que escrevi ou li. Já o fato de o protagonista falar com cadáveres foi algo que imaginei mesmo. ”


Castro diz que seu primeiro contato com Ramalho foi em 2004. “Na época, o Dennison estava chamando atenção no meio do cinema de terror com o curta-metragem ‘Amor Só de Mãe’ (2003). Li uma entrevista dele em um site, na qual ele dizia que a maior dificuldade de filmar terror no Brasil era o fato de não haver autores de terror com histórias originais no país. Resolvi então procurá-lo, descobri o e-mail dele e mandei o link do blog onde eu publicava meus contos, o Casa do Horror. Ele respondeu meu e-mail no dia seguinte, dizendo que tinha gostado dos meus contos, e a gente marcou de ir tomar uma cerveja. ” 


Nesse encontro, segundo Castro, Ramalho disse que o conto que ele mais tinha gostado era o "Morto Não Fala" e que ele queria tentar transformá-lo em um curta-metragem. O diretor, então, afirmou que iria criar um projeto e inscrevê-lo em editais públicos para tentar fazer o filme. 


Parceria iniciou em 2010


Castro comenta que meses depois, porém, ele escreveu outro conto “Um Bom Policial”, Ramalho gostou mais ainda desse e resolveu adaptá-lo como o curta-metragem “Ninjas”. O tempo passou, ele conseguiu dinheiro de um edital e o ‘Ninjas’ foi lançado em 2010.”


O jornalista também assina o roteiro junto com Ramalho e Marcelo Veloso. “O filme foi premiado como melhor curta de terror no Fantasia Film Festival, no Canadá, e conseguindo os prêmios de melhor montagem e ator (Flávio Bauraqui) no Festival de Gramado. Mas sempre o Dennison me dizia que um dia faria um filme com o ‘Morto Não Fala’.”


A notícia sobre a transformação do “Morto Não Fala” em filme veio em 2013. “Ele me deu a notícia de que conseguiu emplacar um projeto de série de horror na TV Globo baseada no conto. Durante um longo período, ele trabalhou nesse projeto dentro da emissora. Até que a Globo, após mudanças internas, resolveu cancelar diversos projetos de série. Segundo o próprio Dennison me contou, o Guel Arraes, que assina a produção, gostava muito da história e quis transformar o projeto de série em um longa-metragem.”  


Roteiro agrada jornalista


Castro afirma que não participou do roteiro junto com Ramalho e Cláudia Jouvin, mas conseguiu dar seus pitacos na obra.


“O Dennison me enviou uma cópia para eu ler assim que ele ficou pronto, me falando sobre algumas partes que não gostava tanto e pedindo para eu dar minha opinião. Há uma cena em que ele aceitou uma sugestão minha, mas, no geral, achei o roteiro bem legal. É bem fiel ao meu conto, que, na verdade, é adaptado até a metade do filme. Do meio para o fim, foi tudo criado por ele e pela Cláudia Jouvin. Acredito que se fosse só o conto, daria no máximo um curta-metragem. Fora isso, o Dennison sempre me manteve informado sobre a produção. Onde e como seria filmado, os problemas que surgiam etc.”


O jornalista conta que gostou bastante da adaptação, dos elementos criados no filme para complementar a história e do trabalho dos atores, em especial da Fabíula Nascimento, da Bianca Comparato e do Daniel de Oliveira, que faz o protagonista. 


“Sempre imaginei o personagem como um tiozinho da periferia. Quando soube que era um galã da Globo que interpretaria o personagem, fiquei meio com o pé atrás. Mas a gente vê que ele se esforçou e se transformou para entrar no papel. No fim, achei perfeito.” 


Para Castro, ver uma história que saiu da sua cabeça tomar forma dessa maneira, é “muito gratificante”. 


“Atores famosos dando vida a personagens que você criou e reproduzindo diálogos que você escreveu. Fora o monte de profissionais que isso mobiliza, entre técnicos, figurinistas, cenografia, casting, efeitos especiais... Você pensa: caramba, um monte de gente está trabalhando para recriar uma historinha despretensiosa que eu escrevi quando tinha 26 anos... Posso dizer que isso te dá uma grande satisfação. Fora isso, gostei do filme. Ele realmente tem cenas assustadoras e sinistras e momentos que faz você pular na cadeira. Fiquei muito contente com o resultado.


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