O jornalista Hamilton Alves relatou o que se lembra do atentado a tiros que sofreu em abril, quando foi alvejado enquanto dirigia sua picape S10 na BR-364. Em entrevista à versão brasileira do site do jornal El País, o apresentador do programa Abrindo o Jogo, da Rádio Nova Jaru, de Rondônia, credita a tentativa do homicídio à sua atuação de denúncias a políticos do Estado.
“Foi uma cena muito forte. Quando eu fecho os olhos, vejo os tiros novamente. Eu faço denúncias baseadas em mensagens do povo enviadas por áudios, vídeos e textos. São denúncias sobre problemas da cidade e dos cidadãos. É um jornalismo político. Dou voz a quem não tem para quem apelar”, afirmou Alves, em entrevista publicada neste sábado, 5.
Dos oito tiros jornalista foi atingido no tórax, no braço, na boca e no pescoço – de onde não foi possívei retirar o projétil. Além dos danos sofridos pelas balas, ele perdeu o controle do veículo enquanto dirigia na estrada entre os municípios de Jaru e Ouro Preto do Oeste e despencou de uma ribanceira. “Escapei por um milagre”, afirma.
De acordo com a Abraji, em 2018 já foram registrados no Brasil 56 casos de violência contra profissionais de imprensa relacionados ao contexto político-eleitoral do País. Dois assassinatos ocorridos em janeiro foram os mais notórios: Jefferson Pureza, em Goiás, e Ueliton Brizon, em Rondônia.
Representante da Artigo 19, entidade que fiscaliza ações dos Poderes Judiciário e Legislativo contra a liberdade de expressão e acesso à informação, Júlia Lima comentou o quadro vivido no Brasil. “O caso de Hamilton soma-se também a outras ocorrências de tentativa de homicídio a comunicadores que estamos apurando esse ano. Se em 2017 notamos uma leve queda no número de violações contra a vida de comunicadores, o ano de 2018 não traz um cenário otimista. Consideramos que o crime contra Hamilton deve ser investigado com o maior rigor e celeridade, e que as autoridades reconheçam a violação à liberdade de expressão como uma linha investigativa”, afirmou ao El País.
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