"Além de capital da República, Brasília é a capital do jornalismo", diz a pesquisadora Zélia Leal Adghirni

Por Karina Padial/Redação Revista IMPRENSA* | 20/04/2010 15:50
Um batalhão de 200 jornalistas atua diariamente no Senado. Cem da mídia convencional e cem da Casa. Mais do que a Capital Federal, Brasília é hoje palco importante da imprensa brasileira. 

Divulgação
Zélia Leal Adghirni
Às vésperas de completar 50 anos, a capital possui a maior concentração de jornalistas per capita do país; é destino almejado por diversos profissionais da imprensa; origina mais da metade das informações que circulam na imprensa brasileira. 

Os números são fruto de pesquisa de Zélia Leal Adghirni, jornalista, doutora em Comunicação pela Universidade de Grenoble (França) e professora na Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília. À IMPRENSA, ela falou sobre a situação dos profissionais no DF e influência dos três poderes na atuação dos jornalistas. 

IMPRENSA - Na sua opinião, a cobertura de Brasília está ainda muito vinculada à agenda dos três poderes?
Zélia Leal Adghirni - Além de capital da República, Brasília também é "a capital do jornalismo" no país, tanto pelo número de jornalistas quanto pelo volume de informações diárias produzidas. Segundo o Sindicato de Jornalistas do DF, mais da metade das informações que circulam na mídia nacional tem sua origem na capital. Brasília é também a capital do jornalismo, pois tem a maior concentração de jornalistas per capita: cerca de 6700 jornalistas para uma população de dois milhões de habitantes, ou seja, um jornalista para cada 350 habitantes. Destes, 60% está empregado em assessorias de comunicação públicas ou privadas.

IMPRENSA - Quais as principais mudanças pelas quais a cobertura de Brasília passou na última década?
Zélia - Nos últimos anos, por uma série de razões, o campo do jornalismo vem encolhendo em detrimento do campo das assessorias de comunicação, de empresas privadas ou instituições pública que emprega mais da metade dos jornalistas em atividade. Segundo estimativas, o poder público emprega 20 mil jornalistas. Mas o total seria de 39 mil pessoas atuando na produção de informes e subsídios para a imprensa tradicional e nas mídias das fontes. Os jornalistas invadiram e ocuparam o espaço das assessorias a partir dos anos 1980. Nossas pesquisas indicam que nove entre dez jornalistas das assessorias já trabalharam nas redações, com mais de dez anos de profissão. Enquanto isso atuam nas redações convencionais da mídia privada 12 mil pessoas (dados de 2003 e 2004).

IMPRENSA - O que ocasionou isso?
Zélia - Esta revoada de jornalistas para as assessorias e mídias institucionais teria sido provocada pela crise econômica de 2001-2002 que reduziu em 18% o volume de postos de trabalho na mídia impressa. Fora das redações o setor ampliou em 16% . A concentração de jornalistas na capital, sede da burocracia governamental, reforça a tendência geral, tanto profissional como administrativa do jornalismo, de se privilegiar as fontes institucionais e estáveis, isto é, as fontes oficiais. No Brasil esta tendência foi ainda mais reforçada durante os 21 anos de regime militar, pois a centralização do poder e a censura direta ou indireta não deixavam alternativa para os jornalistas. Por isso sempre foi um jornalismo nacional. No DF concentram-se as sucursais dos mais importantes jornais do país que funcionam como um vetor de disseminação de fatos políticos diretamente ligados às decisões do poder. Ainda que as redações das sucursais tenham "encolhido" nos últimos dez anos, os profissionais das sucursais estão entre os mais bem pagos do país.

IMPRENSA - Em relação ao Correio Braziliense, alguns o encaram como um jornal de relevância e influência nacional, outros acreditam que sua importância é apenas regional. Qual a opinião da senhora diante disso? 
Zélia - O Correio Braziliense é sem dúvida o jornal mais influente em Brasília. Cerca de 90% de seus leitores moram no Plano Piloto, ou seja, é um jornal voltado para os formadores de opinião, para a elite da cidade. Mas como principal jornal da cidade ele sofre de uma dupla dependência: é o jornal do DF mas é ao mesmo tempo o jornal de Brasília, capital da República. Isto cria uma espécie de jornalismo híbrido. Ele tem que dar conta da cidade, da vida urbana, da política local mas tem que cobrir os Três Poderes, concorrendo com  as sucursais dos principais conglomerados de mídia do País. E ele não consegue dar conta deste duplo desafio. E fora de Brasília, não tem a menor influência, não tem impacto, aliás nem é vendido em bancas nas capitais regionais. O CB ainda não conseguiu definir seu perfil, mostrar sua cara. 

*Com colaboração de Ana Ignacio/Da Redação

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