O jornalista Mino Carta, diretor de redação da CartaCapital, anunciou nesta quarta-feira (04) que deixará mais uma vez de produzir o seu blog e que não terá mais uma coluna na revista. Em um texto intitulado "A despedida", ele explica que sua superexposição no caso Battisti foi um dos principais motivos para tomar a decisão.
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Mino Carta |
Segundo Carta, 45 anos após ter escolhido o Brasil como país e o jornalismo como profissão, vive "uma quadra de extremo desalento, em contraposição às grandes esperanças alimentadas durante a ditadura", quando decidiu que a profissão era uma escolha definitiva.
Após citar alguns fatos da história recente brasileira, como a eleição e o impeatchment de Fernando Collor e as eleições de Fernando Henrique Cardoso em 1994 e 1998, ele afirma que ocorreu no país "a conciliação das elites". Ao falar de Lula, que considerou em 2002 "um conciliador desde os tempos da liderança sindical", Carta diz que seu governo o decepcionou "progressivamente".
Como exemplos mal-sucedidos da administração de Lula, o jornalista cita a eleição de José Sarney para a Presidência do Senado, a de Michel Temer para a da Câmara, a má distribuição de renda e a demissão de Marina Silva do Ministério do Meio Ambiente.
Mas o principal motivo para deixar o blog é, segundo Carta, a discussão sobre o asilo concedido ao italiano Cesare Battisti. "Até este serve ao propósito da conciliação, a despeito das críticas bem fundamentadas da mídia. O ministro Tarso Genro disse em Belém que a favor da extradição de Battisti se alinham os defensores da anistia aos torturadores da ditadura, 'com exceção de Mino Carta'", escreve.
"Agradeço a referência, observo, porém, que o ministro cai em clamorosa contradição. Não foi ele quem, em rompante que beira a sátira volteriana, sugeriu à Itália baixar uma lei da anistia igual àquela assinada no Brasil pelo ditador de plantão?", questiona o jornalista.
"Está claro que o ministro Tarso não erra ao dizer que a mídia nativa está sempre a agredir o governo de Lula, e contra esta forma desvairada de preconceito CartaCapital tem se manifestado com frequência. Ocorre que, ao referir-se à extradição negada a mídia está certa, antes de mais nada em função dos motivos alegados, a exibir ao mundo ignorância, falta de sensibilidade diplomática e irresponsabilidade política, ao afrontar um estado democrático amigo", completa Carta.
"Eu confiei muito em Lula, por quem alimento amizade e afeto. Entendo que o Brasil perde com ele uma oportunidade única e insisto em um ponto já levantado neste espaço: o próximo presidente da República não será um ex-metalúrgico com quem o povo identifica-se automaticamente. Conforme demonstra aliás o índice de aprovação do presidente, cada vez mais dilatado", conclui.
Apesar de dizer que vai se "calar" na CartaCapital, ele afirma que a revista ainda precisa de sua "longa experiência profissional", e que agora pretende escrever um livro sobre o Brasil. Ao Portal IMPRENSA, Carta afirmou que o que ele tinha a dizer está no blog, e que dará mais explicações na edição impressa da CartaCapital.
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