A trajetória do fotógrafo Rui Mendes, do rock ao samba

Por Ana Luiza Moulatlet/Redação Portal IMPRENSA | 07/02/2008 18:15

Nos anos 80, nove entre dez capas de discos do efervescente rock nacional eram dele. Até onde contou, foram 308, de grupos como RPM, Lulu Santos, Legião Urbana, Barão Vermelho, Ira!, Titãs, Capital Inicial, Kiko Zambianchi. Alguns dos mais belos ensaios sobre samba já feitos lhe renderam duas indicações ao prêmio Abril e duas ao prêmio Funarte de Fotografia, quando foi finalista em 1998 com o ensaio "A velha guarda do samba". Um milhão de negativos guardados em 28 anos de profissão renderão um livro, "Música". Esse é Rui Mendes, um dos maiores expoentes entre os fotógrafos de música do Brasil.

Rui Mendes
Guilherme de Brito

Apesar de ter cursado fotografia no Fort Vancouver Junior College, em Vancouver, Canadá, em 1978, a carreira profissional de Rui começou em 1980, quando cursava jornalismo na ECA, Escola de Comunicação e Artes da USP. Como ele mesmo diz, "estava no lugar certo, na hora certa". Paulo Ricardo, futuro vocalista do RPM, era colega de classe de Rui. E ele e Kiko Zambianchi freqüentavam uma república com amigas em comum.

A primeira conquista profissional aconteceu quando Rui fotografou as bandas Ratos de Porão, Ira! e Mercenárias para a revista Pipoca Moderna, egressa da revista Pop. A publicação fechou antes de saírem as fotos,, mas elas serviram a uma causa maior: pagar os shows da "Festa do Gato Morto", comemoração pela vitória da chapa Picaretas, fundada por Rui, para as eleições do centro acadêmico da ECA.

Rui Mendes
O cantor Paulo Ricardo, ex-RPM

Em 1982, no processo de democratização do Brasil, vencer a tradicional chapa Libelu foi um marco. Além de Rui, outros nomes promissores como William Bonner, Paulo Ricardo e Cláudio Tognolli também participavam da chapa. Rui fez jornalismo, cinema e política.

A incursão pelo mundo do rock rendeu encontros memoráveis, como o que teve com Raul Seixas: "quando eu cheguei para o ensaio, ele me disse que só poderia ser fotografado após tomar o café da manhã: duas garrafas de cerveja". Sua capa de disco preferida é a "Música calma para pessoas nervosas", do Ira!. As mais famosas, as do RPM, que venderam milhões de cópias.

Rui Mendes
O cantor e compositor Chico Science

O consistente trabalho de Rui sobre o samba lhe trouxe boas surpresas. Entre 1999 e 2004, em um trabalho sobre o Carnaval, principalmente de rua, encontrou no centro do Rio de Janeiro manifestações preciosas. "Umas delas, chamada Clóvis ou Bate-bola, existe desde 1872. Com roupas muito ricas, e sem som, os foliões enchem as ruas da Cinelândia, só para arranjar confusão. Eles disputam quem tem a roupa mais legal. É meio barra pesada, mas divertido, e ninguém sabe que existe".

De José Serra a Paulo Autran, o excelente retratista guarda histórias de figura célebres, como Oscar Niemeyer. "Eu estava fotografando Niemeyer e ele não tirava a mão do queixo. Quando pedi para ele me deixar fotografar seu rosto, ele me respondeu: 'velho não mostra a cara'".

Rui Mendes
O cantor Renato Russo

Rui, que trabalha em publicações como Exame, VIP, Rolling Stone, Marie Claire, Veja, e desde 1993 dirige e fotografa clipes musicais de bandas como Racionais MC´s, Charlie Brown Junior e Mundo Livre S.A, é um profissional raro, ótimo laboratorista e profundo conhecedor da técnica. E comenta o advento das tecnologias como o programa photoshop e as máquinas digitais: "Hoje mudou só o instrumento, há muitas diferenças entre o digital e o
analógico. Mas se você é ruim, é ruim em todas as formas de fazer foto. O bom fotógrafo, quando manipula essas técnicas, ainda está criando".