O preço da mentira aumentou para as figuras públicas com a ascensão dos mecanismos de busca e checagem. Nas últimas eleições presidenciais, a imprensa passou a utilizar o fact-checking para comparar o que cada candidato estava vendendo como verdade. Uma das iniciativas pioneiras deste modo de fazer notícia chegou a público pelas mãos da jornalista Cristina Tardáguila, no blog Pretono Branco, do jornal O Globo.
Crédito:Divulgação
Equipe da Agência Lupa
Com o fim da corrida eleitoral, a ideia de manter um projeto jornalístico de checagem permaneceu na cabeça da jornalista, que resolveu arregaçar as mangas e ampliar esse modelo, ao perceber que havia mercado para a produção e venda de conteúdo do gênero.
Juntando sua formação e experiência em jornalismo de agências, Cristina bateu na porta de O Globo com o projeto de criação de uma agência de fact-checking. Porém, a crise financeira enfrentada pelos grandes veículos fez com que essa boa ideia ficasse para depois. Inquieta, ela procurou o publisher da Piauí, João Moreira Salles, com que trabalhou entre 2006 e 2011 e vendeu sua ideia. Entre muitos planos, planilhas e modelos, saiu do papel a agência Lupa.
Segundo Cristina, a ideia "era criar uma agência de notícias que amplia o que o Preto no Branco fazia, se propondo a vender este conteúdo checado para outros veículos de comunicação que estejam atrás de informações de qualidade e com rapidez".
Seguindo o modelo de startup, por cerca três anos a primeira agência de fact-checking do Brasil contará com o apoio de Moreira Salles. Após esse período, o veículo caminhará com suas próprias pernas, comprovando que com criatividade é possível criar um novo modelo de negócio jornalístico auto-suficiente.
Com total independência editorial, as únicas ligações da Lupa com a revista Piauí estão no fato de dividirem o mesmo site e terem Moreira Salles como "padrinho". Para a jornalista mãe da ideia, "o objetivo da Lupa se assemelha muito aos dos outros checadores internacionais: elevar o custo da mentira, deixando mais encabulada a figura pública que usa dados de forma equivocada e, num segundo momento, em decorrência dessa conquista, elevar a qualidade do debate público".
Mãos à obra
Baseada em sua experiência anterior em O Globo, Cristina propõe através do trabalho da Lupa apresentar uma checagem robusta. "Foi um prazer mostrar pra nós mesmos que uma checagem pode render uma reportagem completa de primeira qualidade. Saímos da superficialidade do fact-checking do Preto no Branco", comemora.
Se à primeira vista a equipe da agência parece ser pequena – composta por apenas quatro jornalistas –, a diretora da Lupa comemora ter um time que joga em todas as posições. Estão com ela a subeditora Juliana Dal Piva – ex-Estadão, ex-O Dia e vencedora do Prêmio Líbero Badaró, organizado por IMPRENSA; Raphael Kapa, ex-O Globo e vencedor do Esso 2015 na categoria Educação, e Pauline Mendel, ex-Casa Digital e FSB.
Com uma visão mais ampla sobre trabalho de checagem, a agência Lupa atuará em diversas frentes, ou seja, editorias. Embora a política seja pano de fundo em muita parte do trabalho, a ideia é fazer fact-checking sobre diversos temas, tanto é que o primeiro pacote de conteúdo veículo foca nos Jogos Olímpicos 2016.
Resultados
Embora tenha acabado de nascer, a Lupa iniciou suas operações fechando contrato com a GloboNews, que será a primeira emissora brasileira a ter fact-checking na TV. A partir desta segunda-feira (29/2), terá um quadro duas vezes por semana (às segundas e sextas) no novo telejornal da emissora – "Jornal da GloboNews – Edição das 16h", das 16h às 17h30 –, apresentado por Christiane Pelajo.
"Fechamos contrato com a GloboNews e estamos negociando com diversos outros veículos. Queremos provar nosso modelo de negócio, que é vender checagens. É um trabalho exatamente igual ao das agência EFE, Reuters ou France Press. Produzimos nosso conteúdo e repassamos para os jornais e televisões que tenham interesse em comprar", afirma Cristina.
Na busca em tornar o negócio viável, a jornalista tem como objetivo vender o conteúdo para uma emissora de TV – GloboNews – e para um jornal por Estado, além de revistas semanais e uma emissora de rádio. Com negociações em andamento, em breve a Lupa poderá oferecer conteúdo exclusivo para outros veículos no Brasil.
Apesar de sonhar em ter uma "agência enorme", Cristina Tardáguila mantém os pés no chão. Antes de ampliar a equipe, tem apenas um objetivo "mostrar que temos qualidade para tirar do papel o que queríamos". O crescimento, segundo ela, será consequência disso.
Leia também
- "O Globo" lança blog para checar declarações de candidatos em campanha eleitoral
- Com equipe robusta, Nexo quer promover o pensamento crítico do leitor
- Revista digital Calle2 entra no ar para falar sobre a América Latina