A ombudsman da
Folha de S.Paulo, Vera Guimarães Martins,
criticou no último domingo (13/9), o que chamou de "festival de barrigadas" na imprensa pela reprodução da notícia de que o ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal (STF), havia determinado a abertura de inquérito contra os ministros Edinho Silva (Comunicação Social), Aloizio Mercadante (Casa Civil) e o senador Aloysio Nunes Ferreira.
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Abertura de inquérito era somente para Edinho Silva, que atuou como tesoureiro da campanha da presidente Dilma Rousseff (PT)
Os três foram mencionados no depoimento do delator Ricardo Pessoa, proprietário da UTC, entre os diversos políticos cujas campanhas teriam recebido financiamentos da empreiteira. Vera lembrou que a notícia foi dada como um furo no "Jornal Nacional" do último dia 6/9. No dia seguinte, foi manchete em O Estado de S. Paulo e, na segunda-feira, na Folha. Também chegou a ser comentada em coluna e saiu no carioca O Globo. O erro apenas foi retratado na terça-feira (8/9).
A abertura de inquérito era somente para Edinho Silva, que atuou como tesoureiro da campanha da presidente Dilma Rousseff (PT). A Procuradoria considerou que os casos de Mercadante e Ferreira não têm ligação com a Lava Jato e propôs que fossem redistribuídos para outro ministro do Supremo. Após a decisão, Celso de Mello foi sorteado para analisar se haverá abertura de inquérito para investigar possível crime eleitoral.
"Um erro coletivo como esse só evidencia como os controles de apuração são frágeis. É fácil entender a replicação de conteúdo errado em redes sociais, onde bastam o descompromisso e um clique para passar a história à frente. Nos veículos noticiosos, o primeiro mandamento é tentar confirmar a informação com mais de uma fonte antes de publicá-la. Se isso não for possível, a notícia será reproduzida e atribuída a quem a divulgou. O lado bizarro desse caso é que todos os veículos fizeram confirmações próprias –e todas estavam erradas", pontuou.
A ombudsman atribui parte da falha ao "apagão" dos feriados, quando as redações estavam com metade da equipe e as fontes não eram acessíveis. "Não é difícil que repórteres de jornais diversos tenham ouvido as mesmas fontes mal informadas. Também não se pode ignorar que a pressão para confirmar ou desmentir o furo de concorrentes pode resultar em apurações apressadas – pressa que vale para a publicação, mas não para a admissão do erro".
O "JN" e o G1 publicaram erratas na terça. A Folha divulgou correção no digital na quarta (9/9) e, no impresso, no dia seguinte. Na sexta-feira (11/9), a publicação veiculou uma reportagem sobre o assunto e deu chamada na capa. "Não há nenhuma justificativa plausível para a demora. Houve cochilo generalizado na Redação, inclusive desta secretaria", disse Vinicius Mota, secretário responsável pela edição do jornal.
A jornalista destaca também o fato de os demais jornais não publicarem correções claras o que, para o leitor "desavisado", o fato não foi notado. Ela pontuou ainda que o uso excessivo de fontes não identificadas, o recurso do off, deveria ser exceção.
"O anonimato alimenta o descompromisso da fonte com a veracidade da informação, facilita a publicação de notícia mal-ajambrada por falta de contraditório e propicia a plantação de boatos ou versões que atendem unicamente a interesses individuais ou de grupos. Deveria ser usado com moderação", concluiu.
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