O século XXI, essa era dourada da informação, nos presenteou com uma miríade de ferramentas para nos conectarmos com o mundo e com pessoas que jamais conheceríamos. Mas, em meio a esse mar de possibilidades, uma verdade incômoda se revela: estamos cada vez mais alienados de nós mesmos, reféns de uma ditadura da distração que nos aprisiona em um ciclo vicioso de consumo e alienação.
Somos bombardeados por um fluxo incessante de informações e estímulos, uma sinfonia de notificações e alertas que competem por nossa atenção, como se a própria natureza humana tivesse sido reprogramada para buscar o novo, o imediato e o superficial. A indústria da informação, com seus algoritmos e técnicas de marketing impecáveis, nos conhece melhor do que nós mesmos. Ela explora as profundezas da nossa psique, desvendando as vulnerabilidades e incoerências que nos movem, transformando-nos em consumidores compulsivos de conteúdo, seja ele um vídeo viral de uma dancinha sem sentido, uma notícia alarmista sobre o fim do mundo ou um post de autoajuda com um título irresistível.
O medo, a curiosidade, a busca por validação social, a necessidade de pertencimento e o desejo de fuga da realidade, são as chaves mestras que desbloqueiam as portas da nossa atenção. Somos atraídos pelos títulos sensacionalistas, pelas histórias de horror e pelo espetáculo da tragédia. A sensação de urgência que emana dos nossos dispositivos, nos induz a uma busca incessante por novidades, nos impedindo de nos concentrar em tarefas essenciais e de nos conectar com a nossa própria realidade interna.
Compreendemos, em nível consciente, que passar horas nas redes sociais não é produtivo. Sabemos que aquele livro na estante pode nos enriquecer a mente, mas preferimos o entretenimento rápido e superficial. Desejamos mudanças positivas em nossas vidas, mas a inércia e a procrastinação nos paralisam, nos transformando em escravos da própria falta de ação. Somos como crianças fascinadas pelas luzes piscantes de uma máquina de fliperama, enquanto o mundo real passa despercebido ao nosso redor.
A indústria da informação, com sua engenhosidade e seus algoritmos excepcionais, se tornou mestre na arte da manipulação da atenção. Ela nos alimenta com doses contínuas de dopamina, o neurotransmissor do prazer, mantendo-nos viciados em seus produtos e mergulhados em um mar de informação superficial e desconectada da realidade.
A pergunta que não quer calar é: quem está controlando o botão "play" da nossa mente? A resposta, meus caros, é mais assustadora do que qualquer filme de terror: a mídia de forma geral (ou pelo menos boa parte dela), que, com maestria digna de um ilusionista, explora as fraquezas e contradições que nos movem. Olhamos para um espelho distorcido da realidade, que molda a nossa percepção através de um mosaico de imagens, sons e textos cuidadosamente orquestrados.
Esta fábrica de sonhos, nos oferece uma escapada ilusória, com jogos, séries e filmes que nos leva a distração dos nossos problemas e das responsabilidades do mundo real. Somos atraídos pelas histórias de horror que nos colocam em contato com nossos medos primitivos, mas não nos questionamos sobre as implicações reais da violência, da injustiça e da desigualdade que nos cercam.
Adoramos mudanças, mas estamos apegados à nossa zona de conforto. Então, histórias de autoajuda prometem transformar nossas vidas em uma semana, mas não nos oferecem ferramentas reais para mudar nossos hábitos e superar a inércia que nos paralisa. Em um mundo onde a atenção é o novo ouro, a mídia se tornou uma potência incontestável. Ela nos manipula, nos distrai, nos controla, e nos faz acreditar que estamos livres, enquanto nos aprisiona em um labirinto de opções que nos afasta da realidade e do próprio conhecimento de nós mesmos.
Perdemos a capacidade de concentração, de reflexão profunda, de conexão autêntica com os outros e com o mundo ao nosso redor. Nos tornamos pessoas superficiais, impacientes e incapazes de lidar com a complexidade do mundo real.
A solução não é simples. Não se trata de negar a tecnologia ou de nos isolar do mundo. A chave está em desenvolver a autoconsciência, entender as intenções subjacentes e compreender nossas fragilidades, bem como as estratégias de manipulação que as empresas utilizam para nos manter presos à ditadura da distração.
*Marcelo Molnar é formado em Química Industrial, com pós graduação em Marketing e Publicidade. Experiência de 18 anos no mercado da Tecnologia da Informação, atuando nas áreas comercial e marketing. Diretor de conteúdo em diversos projetos de transferência de conhecimento na área da publicidade. Criador do processo ICHM (Índice de Conexão Humana das Marcas) para mensuração do valor das marcas a partir de sua relação emocional com seus consumidores. Coautor do livro "O segredo de Ebbinghaus". Atualmente é Sócio Diretor da Boxnet.
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