Este é um tema amplamente explorado, porém frequentemente negligenciado: a intencionalidade. A teoria do "Agenda Setting" sugere que a mídia não determina o que as pessoas devem pensar, mas é bastante eficaz em influenciar sobre o que elas devem pensar. Isso implica que, mediante a seleção das histórias noticiadas e a frequência com que são apresentadas, a mídia tem o poder de moldar a percepção pública sobre quais questões são consideradas importantes.
No contexto contemporâneo, caracterizado pela onipresença das redes sociais e pela democratização do acesso à informação, emerge um paradoxo notável: apesar do acesso aparentemente ilimitado ao conhecimento, a qualidade e a veracidade dessa informação estão frequentemente em xeque. Nesse cenário, a literacia midiática se estabelece não apenas como uma competência essencial para a navegação crítica no ambiente digital, mas também como um antídoto crucial contra a proliferação da desinformação.
A necessidade de uma abordagem mais crítica e consciente, tanto por parte dos profissionais de comunicação quanto do público em geral, é urgente. A literacia midiática, definida como a habilidade de acessar, analisar, avaliar e criar conteúdo em diferentes formatos de mídia, adquiriu uma importância inédita na era digital. Ela capacitou os indivíduos a decifrar o vasto oceano de informações disponíveis, embora muitas vezes sem conseguir distinguir entre o que é confiável e o que é produto de manipulação ou desinformação. A falta de desenvolvimento dessa habilidade nas escolas torna a situação ainda mais crítica, especialmente quando consideramos a intencionalidade por trás das mensagens veiculadas pelos mais diversos meios de comunicação.
As redes sociais, enquanto plataformas de informação e interação, desempenham um papel ambíguo. Por um lado, oferecem oportunidades sem precedentes para a troca de ideias, a mobilização social e a disseminação de conhecimento. Por outro, tornaram-se ferramentas poderosas na manipulação de opiniões e comportamentos, aproveitando a falta de literacia midiática da maioria dos usuários para disseminar desinformação e narrativas tendenciosas.
Ressalto um ponto crítico sobre a natureza da influência digital e a complexidade envolvendo a relação entre influenciadores digitais e o conteúdo que produzem. Apesar de uma aparente neutralidade, sua atividade é frequentemente comercial, com marcas e empresas pagando por promoções, parcerias e conteúdo patrocinado. Essa realidade comercial adiciona camadas de intencionalidade e potenciais mensagens subliminares nas comunicações, afetando o comportamento e as percepções do público de maneiras nem sempre óbvias.
A manipulação pelas redes sociais opera em diversas frentes. Algoritmos sofisticados personalizam o conteúdo para cada usuário, criando "bolhas de filtro" que reforçam visões de mundo preexistentes e isolam os indivíduos de informações contrárias ou divergentes. Esse fenômeno é exacerbado pelo viés de confirmação, que as plataformas digitais exploram habilmente.
Ademais, a disseminação de informações falsas ou enganosas muitas vezes supera a de conteúdos verídicos, graças à sua natureza sensacionalista ou emocionalmente carregada. Isso é especialmente preocupante em contextos de crise ou polarização social, onde a desinformação pode ter consequências reais e devastadoras.
Nesse contexto, a responsabilidade dos profissionais de comunicação aumenta significativamente. É imperativo que não apenas pratiquem a educação midiática, mas também promovam e capacitem o público a questionar criticamente o conteúdo consumido. Isso implica esclarecer sobre o funcionamento das plataformas digitais, os interesses econômicos e políticos que influenciam o conteúdo visto e a adoção de técnicas de verificação de fatos.
A literacia midiática surge como uma competência fundamental na era da informação, atuando como um baluarte contra a manipulação e a desinformação. Nosso desafio é duplo: estar equipado com um senso crítico aguçado e comprometer-se em fomentar o desenvolvimento do pensamento crítico na sociedade. Neste cenário em constante evolução, discernir a intencionalidade por trás de cada conteúdo consumido é mais do que uma habilidade; é uma necessidade premente para a proteção da integridade, da liberdade e da própria democracia.
*Marcelo Molnar é formado em Química Industrial, com pós graduação em Marketing e Publicidade. Experiência de 18 anos no mercado da Tecnologia da Informação, atuando nas áreas comercial e marketing. Diretor de conteúdo em diversos projetos de transferência de conhecimento na área da publicidade. Criador do processo ICHM (Índice de Conexão Humana das Marcas) para mensuração do valor das marcas a partir de sua relação emocional com seus consumidores. Coautor do livro "O segredo de Ebbinghaus". Atualmente é Sócio Diretor da Boxnet.
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