O jornal americano The Wall Street Journal publicou uma matéria que está causando grande repercussão no mercado financeiro nos EUA. A reportagem revela uma investigação aberta pela Securities and Exchange Comission (SEC) para avaliar denúncias de que uma gestora de ativos ligada a um grande banco estaria exagerando na propaganda sobre seus esforços em ESG, induzindo investidores ao erro.
O tema não é muito diferente do que já chamava-se anteriormente de “greenwashing”, que é quando uma organização faz um marketing duvidoso ou mentiroso sobre suas ações ligadas a meio ambiente e sustentabilidade. Mais uma vez notamos que, para muitas organizações, o discurso ainda está bem distante da prática.
Nunca se falou tanto sobre ESG e diversidade como em 2020 e 2021. Por um lado, é empolgante ver que, de fato, tais assuntos e a necessidade urgente de mudança parecem ter entrado efetivamente na pauta.
Mas... quando olhamos para os números, tem alguma coisa que não está batendo. Vou comentar aqui especificamente sobre diversidade em conselhos, tema ao qual estou mais envolvida diretamente. Acompanho anualmente o ranking Board Index Brasil, da consultoria Spencer Stuart, que analisa os perfis dos conselhos de grandes empresas brasileiras. Em 2020, o índice mostrou que as mulheres representavam apenas 11,5% das posições em conselhos de administração em empresas de Nível 1, Nível 2 e Novo Mercado da B3. No levantamento de 2021, que acaba de ser divulgado, o número subiu para 14,3%. É um avanço? Sim, é um avanço. Mas o ritmo de crescimento é desproporcional ao espaço que as discussões sobre diversidade ocuparam nesses últimos tempos nas agendas e nos discursos das companhias e dos investidores, além dos muitos esforços de entidades independentes que estão se dedicando a essa causa – entre eles o Programa Diversidade em Conselho (PDeC), do qual faço parte há cerca de cinco anos. O PDeC é uma iniciativa conjunta entre cinco entidades – B3, Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), International Finance Corporation (IFC), Spencer Stuart e WomanCorporateDirectors (WCD) – que visa uma maior inserção feminina em conselhos.
Para aqueles que insistem em dizer que tudo é uma questão de tempo, fica o recado claro de que isso não é mais suficiente. Nesse ritmo, vamos demorar mais de 30 anos para chegarmos a um resultado de equilíbrio de gênero nos conselhos. Diversidade racial, então, nem se fala. E olha que gente preparada para ocupar esses espaços é o que não falta. Só pelo PDeC já passaram 140 executivas e empresárias de altíssimo nível que estão mais do que prontas para serem conselheiras.
As iniciativas independentes, porém, apesar de estarem fazendo um árduo e importantíssimo trabalho de mobilização, não conseguirão fazer a mudança sozinhas. Cada um precisa fazer a sua parte – incluindo os acionistas, conselheiros e investidores. Todo esse discurso sobre ESG e diversidade precisa estar refletido em uma transformação de verdade.
*Roberta Lippi é sócia da Brunswick Group, consultoria internacional de comunicação estratégica. Jornalista com pós-graduação em gestão empresarial pelo Insper e especialização em comunicação internacional pela Universidade de Syracuse/Aberje, tem 25 anos de experiência na área de comunicação, com foco em posicionamento corporativo, mídia, crises, comunicação interna e treinamento de executivos. É membro desde 2015 do Programa Diversidade em Conselho, iniciativa de B3, IBGC, IFC, Spencer Stuart e WCD para ampliar a diversidade em conselhos de administração.
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