Se é ou não segunda onda – afinal, sequer saímos da primeira -, o fato é que o Brasil vai virar o ano enfrentando o agravamento da pandemia de covid-19. E, conforme noticiou este mesmo Portal Imprensa, o país é líder em desinformação.
No início da crise, foi constituído o “Consórcio de Veículos de Imprensa”, que assumiu o processamento de dados nacionais, dada à falta de precisão e transparência por parte do Ministério da Saúde, no exercício dessa função.
Diante da omissão do governo central em articular políticas de prevenção e combate ao novo coronavírus, é chegada a hora de os veículos de imprensa atuarem em novas frentes.
Seria louvável se, além da consolidação dos indicadores, o Consórcio de Imprensa passasse a exibir ou publicar peças de orientação e conscientização. Nas mais variadas linguagens – jornalísticas, didáticas e publicitárias – e formatos (impresso, audiovisual, multimídia).
Peças que reiterem a importância do uso da máscara, ilustrando sobre como deve ser esse uso; que clamem pela não promoção nem envolvimento em aglomerações; que instruam sobre a adoção de novos hábitos, adaptados à realidade excepcional. Seria muito importante vermos materiais assim no rádio, na televisão, nos jornais, nas revistas, nos portais e redes sociais.
Crédito:Marcelo Seabra/Agência Pará/Fotos Públicas
Atendimento a casos suspeitos de covid-19 na Policlínica Itinerante do Mangueirão, em Belém (PA)
Caminhamos para nove meses de pandemia, com mais de 170 mil vidas perdidas, e não há campanhas oficiais educativas, promovidas pelas autoridades federais competentes. Ao contrário. Não raro delas vem desinformação, quando não fake news mesmo.
Programas como o Plantão da Saúde, da TV Gazeta poderiam retornar à grade das emissoras. Mais curtos, quem sabe distribuídos ao longo do dia; sem alarmismos, nem abordagem político-partidária, para evitar ranços do público e garantir audiência e fazer a mensagem chegar e ser compreendida. Em retórica didática, sobretudo.
Ao mesmo tempo, atrações televisivas de entretenimento, variedades, entrevistas, mesas-redondas e similares precisam rever protocolos, dar melhor exemplo. Cada vez mais vemos abraços, beijos, apertos de mão, entre outros gestos que transmitem ao espectador a sensação de normalidade. Pessoas perto uma das outras. Gente indo ao ar sem máscara. Não dá.
O ano letivo de 2021 deve começar sem que possamos voltar com as atividades presenciais. A radiodifusão aberta seria instrumento fundamental para levar ensino a todo mundo, fazer parte de uma política educacional especial para esse período de restrições (e igualmente, nesse campo, há ausência absoluta do governo central). Deixo como gancho para artigo futuro.
*Wagner de Alcântara Aragão é jornalista e professor de disciplinas de Comunicação na rede estadual de ensino profissional do Paraná. Mestre em Estudos de Linguagens (UTFPR). Mantém um site de notícias (www.redemacuco.com.br) e promove cursos e oficinas nas áreas de Comunicação e Cultura, sobre as quais desenvolve pesquisas também.
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