Crédito:Montagem com imagens de divulgação
A pandemia da Covid-19 é o que chamamos de “black swan” (cisne negro), pela raridade, ou
“wild card”, pelo impacto.
É um evento possível, impactante, mas que consideramos de baixa probabilidade de ocorrência no curto prazo.
Uma nova pandemia causada por coronavirus, originando-se em Wuham (China), já havia sido vaticinada por cientistas em 2007, com elevada probabilidade de ocorrência, embora sem data marcada. Bill Gates gravou uma palestra para o TED em 2015, reforçando a necessidade de nos prepararmos para uma pandemia. Obama fez o mesmo em 2016, e a preparação do sistema de saúde para enfrentar uma provável pandemia fazia parte de sua plataforma eleitoral. O CIFS – Copenhagen Institute for Futures Studies, incluiu a pandemia no seu kit de wild cards em 2016.
Em comum, a convicção de que a ocorrência de uma nova pandemia deveria estar no radar de governos e organizações.
Ainda assim, o mundo foi pego de surpresa.
Enquanto nos organizamos para enfrentar e superar a pandemia, também pensamos no futuro.
De imediato, boa parte do que está acontecendo e irá acontecer nos próximos meses pode ser classificado como antecipação (ou aceleração) do futuro.
A preocupação com a saúde pessoal e com o ecossistema de atendimento, com foco nas pessoas de mais idade, vinha sendo um tema recorrente. Todos falavam em mais prevenção e menos tratamento, mas pouco havia sido feito até então.
As empresas brasileiras aceleraram a adoção do trabalho remoto nos últimos dois anos. Aproximadamente 50% delas já haviam adotado algum modelo, ainda que parcial, de home office antes da crise.
O monitoramento social foi um dos assuntos mais quentes do final da década passada, sob a ótica da proteção de dados pessoais. Agora recebe um outro olhar, o da segurança coletiva.
Podemos completar essa lista de cenários futuros acelerados pela pandemia com o encasulamento digital, as novas formas de trabalho, a necessidade de revisão dos contratos sociais, a responsabilidade social corporativa, o resgate da relevância das marcas de mídia, a busca de propósito, entre outros temas que, agora, não podem mais ser ignorados ou postergados.
No mundo dos negócios, as empresas precisarão rever suas estratégias para 2020 e 2021.
No âmbito pessoal, o desafio também é grande. O choque de realidade nos faz pensar sobre o valor da vida e o que andamos fazendo com a nossa.
Embora estejamos todos no mesmo mar revolto, cada um está no seu barco. E há quem não tenha barco e nem colete salva-vidas.
Todos se perguntam quando voltaremos ao normal, mas já parece claro que teremos um novo normal após a pandemia, possivelmente melhor, se aproveitarmos esse momento de reflexão forçada para corrigir alguns erros de rota.
Vivemos uma transformação ao estilo de Maquiavel: más notícias vêm todas de uma vez; boas notícias, pouco a pouco.
Com um pouco de sorte, as boas superarão as más.
Flavio Ferrari, Head do CIFS BR – Copenhagen Institute for Futures Studies.
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