A seção “Bastidores do Labjor” destaca o jornal-laboratório desenvolvido pelos estudantes da Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS). O Olhar Social é destinado a temáticas ligadas ao terceiro setor, entidades sociais, cidadania, ONGs e responsabilidade social na região do ABC. E procura trabalhar histórias humanas por meio de narrativas jornalísticas.
Em entrevista ao Portal IMPRENSA, o estudante Cauê Calodro compartilha um pouco de sua experiência no jornal.
Ficha do jornal-laboratório
Olhar Social
Instituição: Universidade Municipal de São Caetano do Sul, em São Paulo
Professores responsáveis: Profa. Ms. Ana Paula Oliveira e Prof. Ms Paulo Alves de Lima
Para ler o jornal: https://jornalolharsocial.wordpress.com/
Data de inauguração: Outubro de 2013
Quantidade de estudantes envolvidos: Desde a inauguração, são turmas de 60 alunos por ano, totalizando mais de 300 alunos e matérias produzidas até hoje
Jornal indica
Crédito:Reprodução / Olhar Social
Essa matéria gerou uma repercussão enorme na Universidade e, a partir dela, conseguimos levar as crianças que participam da rádio comunitária para uma oficina/roda de conversa com os alunos durante nossa Feira de Comunicação de 2018. Leia na edição 48 do Olhar Social.
Os bastidores do Olhar Social, por Cauê Calodro
Perfil: Cauê Calodro é estudante do 7º semestre de Jornalismo na USCS
Fatos curiosos
Quando ainda planejava a pauta sobre o Sítio Cultural Alsácia, Marc Strasser, coordenador do local, me disse que sua equipe contava com seis membros: ele, Willian Costa, Isadora Duncan, Carmela, Duncan e Schulz. Preparei perguntas para todos e, ao chegar lá, me deparei com uma gang canina comandada por dois humanos, Willian e Marc. Os cães do Sítio recebem nomes de pessoas e são realmente tratados como membros da equipe. Eles parecem saber disso em cada gesto e aproximação de novos visitantes.
A Roda na Feira, retratada na crônica para o Olhar Social, tem início às 10h, e dura quase 3h. Por todo este tempo, grande parte dos integrantes do Gingaê Camará jogam capoeira, dançam jongo, samba de roda e maculelê com os pés descalços sob o asfalto quente e desgastado da Avenida Brasil. As cantigas chegavam a somar quase 20 minutos de duração ininterrupta, acompanhadas por berimbaus que pesam aproximadamente 1kg. Eles são suportados por um dos braços do tocador, junto com o polegar e o dedo mindinho, responsáveis por tencionar a pedra no arame e afastar a cabaça do corpo para o efeito sonoro de ressonância. Manter o ritmo musical de uma roda de capoeira é um verdadeiro exercício de resistência.
O que deu muito certo
Nas duas edições do Olhar Social, busquei pautas que envolvessem cultura na cidade de Ribeirão Pires. Quando fiquei sabendo sobre o Sítio Cultural Alsácia, tive a sorte de descobrir que o espaço fica a menos de dois quilômetros de onde eu moro, o que facilitou muito minhas visitas ao local.
No caso da Roda na Feira, tive a sorte de pegar o projeto logo no início, o que ajudou a fortalecer a divulgação. Acabei realizando um vídeo sobre o evento, disponibilizado aos organizadores para divulgação. Também pude fazer alguns registros fotográficos de outras atividades do grupo, o que potencializou minha experiência e abriu novas oportunidades.
O que chamou sua atenção
O Olhar Social me mostrou a importância de valorizar o jornalismo regional, visto com certo preconceito por alguns estudantes. Antes de ser global, é preciso ser local. O jornalismo regional é mais complexo por envolver uma certa inércia de conteúdos publicados, bancados por verbas públicas e publicação de editais, ou oriundos de assessorias de imprensa. É muito difícil encontrar publicações críticas e questionadoras quando os donos do poder as financiam.
Historicamente, o Grande ABC possui grande relevância no cenário nacional em diferentes aspectos, que vão desde fatos históricos a singularidades de sua população. Não existe, atualmente, algum veículo de imprensa na região que de fato represente os habitantes do ABC. Todo o processo de produção do Olhar Social chama atenção para essa carência do jornalismo regional, em um país repleto dos chamados desertos de notícias.
Crédito:Reprodução / Olhar Social
Dicas para outros labjors
Os jornais laboratório são uma excelente oportunidade para o estudante exercitar a separação entre suas opiniões e o trabalho jornalístico. É muito comum que os textos iniciais sejam carregados de expressões que revelam certo envolvimento emocional do repórter com a história, e isso é muito bem podado pelos professores durante todo o processo a partir do Manual de Redação e edição dos textos. Esse exercício de desprendimento é fundamental para qualquer trabalho jornalístico futuro.
Apesar de certa resistência de início, muitos alunos desenvolvem uma linguagem com isenção enquanto revelam uma identidade na escrita, na escolha das palavras e no tom da matéria, sem perder a essência de informar com qualidade. Além disso, os textos devem ter tamanho específico, o que pode se tornar um obstáculo. No entanto, isso faz com que os alunos desenvolvam a habilidade de síntese das ideias.
Os labjors não têm apenas o papel de desenvolver a teoria na prática, mas também de confrontar essas duas vertentes de aprendizado e fazer com que o aluno absorva diferentes experiências de forma singular. O jornalismo, por ser uma atividade humana e fluída, não obedece à risca aquilo que a teoria estipula, e os labjors são fundamentais para entender isso.
Como você define o trabalho no seu labjor
Minha participação no Olhar Social foi muito proveitosa por todos os aprendizados citados, entre outras descobertas pessoais e profissionais que o jornalismo proporciona. Foi o momento em que percebi que sou capaz de desenvolver os processos de uma reportagem, com pauta, fontes, diagramação e edições no material. Creio que a versão impressa do Olhar Social consolidou isso. Apesar de estarmos na era do jornalismo digital, o resultado impresso dos labjors tem um peso simbólico e concreto, a chance de ter em mãos o trabalho realizado.
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