Duas iniciações científicas foram o ponto de partida para Ednan Gomes consolidar o seu TCC, uma pesquisa que aborda o consumo de notícias pelo público infanto-juvenil.
Ednan se formou em Jornalismo, em 2017, pela Universidade do Sagrado Coração - USC, que fica em Bauru (SP). Em entrevista ao Portal IMPRENSA, ele compartilha sua experiência no desenvolvimento do trabalho.
Sobre o trabalho
O meu TCC se intitula “Estudo de Consumo de Notícias Pelo Público Infanto-Juvenil: dos 11 aos 14 anos” e é um derivado de duas Iniciações Científicas que havia feito anteriormente. A primeira chamava-se “Estudo de Notícias Pelo Público Infantil: dos 7 aos 10 anos”, desenvolvida no biênio 2015/2016, que visava estudar a relação das crianças com a notícia em todos os meios de comunicação, como revistas, rádio, televisão, impresso e digital. O resultado desse primeiro trabalho foi identificar a relação forte das crianças com a web.
Então na minha segunda Iniciação, que se tornou praticamente meu TCC, apenas com o acréscimo de capítulos, eu estudei a relação do público infanto-juvenil com as notícias na web, verificando além das editorias favoritas de consumo, os dispositivos onde esse consumo ocorre, se a relação das crianças e adolescentes potencializava os acessos às notícias e também o “não olhar” dos produtores de conteúdo para esse público enquanto consumidor de notícias.
Principais desafios
Além do cansaço, já que eu fazia estágio, era aluno regular da faculdade e ainda fazia projeto de extensão, um dos grandes desafios foi conseguir a autorização, por parte dos pais, para que as crianças participassem da pesquisa. O loco do meu trabalho foram duas escolas: uma pública e outra particular. Conseguir o apoio das instituições não foi difícil. Entretanto, muitos pais não autorizaram a participação dos filhos e até mesmo mandaram bilhetes dizendo que os filhos deles não iam servir de “cobaia para nada”. Sendo que a minha pesquisa era para responder a um questionário e depois promover um bate-papo sobre jornalismo, internet, entre outros assuntos adjacentes. Foi durante esse processo que eu percebi que ainda existe uma ignorância muito grande por parte da população sobre as pesquisas científicas e produções acadêmicas. Me desanimei por um tempo. Mas o apoio das escolas e da minha orientadora me animaram para continuar.
Os aprendizados
Disciplina e organização foram dois aprendizados importantes que tive ao longo desse processo. Eu colocava uma meta de páginas para escrever ao longo da semana, um número de páginas para serem lidas e fichadas. Além disso, nas minhas pesquisas sobre o público infanto-juvenil, ouvi coisas muito interessantes dos participantes, que fizeram com que eu refletisse até mesmo sobre a minha própria profissão. Hoje, quando produzo uma reportagem, penso que também podem haver crianças e adolescentes consumindo aquilo e essa era uma visão que eu não tinha, e que muitos jornalistas ainda não têm. Pois esse público não é considerado como consumidor de jornalismo. Pesquisas anteriores, como a TIC Kids Online e a minha própria reforçam afirmando que não é verdade.
O significado dessa experiência
O processo de produção do TCC me trouxe muito amadurecimento como pessoa, como pesquisador e principalmente como jornalista. Já que é durante o TCC que cai a ficha do profissional que você está se tornando e da importância que o jornalista tem nos dias de hoje, em que as redes estão infestadas de fake news. Não me esqueço de uma das participantes da pesquisa falando que era um absurdo que alguns adultos acreditassem em notícias falsas. Isso me deu um orgulho tão grande e uma força para continuar lutando pelo jornalismo e pela liberdade da imprensa. Outra coisa bacana é que o TCC também fez com que eu amadurecesse a ideia de fazer um mestrado em que eu continue trabalhando com o público infanto-juvenil.
Crédito:Arquivo pessoal
Ednan, com colegas e professores, no dia da apresentação do seu TCC
Contribuições que o trabalho trouxe
Eu tive a chance de participar de congressos apresentando meu trabalho e também de escrever um artigo sobre o tema que será publicado em um livro, que será lançado em breve. Essas foram para o meu lado pesquisador. Agora, considerando meu lado profissional, uma conversa sobre o tema do meu TCC fez com que eu conseguisse o emprego que tenho hoje. Apesar de não trabalhar diretamente com o público que estudei, o tema do TCC chamou a atenção da minha entrevistadora e fez com que aprofundássemos a conversa sobre o assunto e que ela se interessasse pelo meu trabalho e o meu portfólio.
Conselhos para quem está fazendo o TCC
Eu vejo que existe uma ‘demonização’ desnecessária sobre o TCC. É um trabalho importante e é claro que tem as suas dificuldades, que não são poucas. Mas o que os alunos precisam entender é que o TCC é algo super possível. Eu já tive amigas que desistiram dos seus cursos, para não terem que fazer o TCC. Isso é um absurdo! E essa demonização acontece muito mais por parte dos alunos, do que dos professores. Então, o meu conselho é: se jogue, sem medo. Escolha um tema que seja do seu interesse e trabalhe com um recorte interessante. Essas dicas, apesar de clichês, são importantes, pois o processo todo acaba se tornando prazeroso. Também, sempre escrevam artigos ou papers pedidos pelos professores ao longo das disciplinas da graduação - essa atitude vai te ajudar a amadurecer enquanto pesquisador e vai te fazer ver que o TCC não é o bicho-de-sete-cabeças que dizem por aí.
Outra coisa que para mim deu certo: faça seu TCC sozinho. Apesar do jornalismo ser um constante trabalho em grupo, vejo que fazer sozinho o TCC é a decisão mais interessante. É claro que o volume de trabalho é grande, mas pelo menos você consegue monitorar o que deve ser feito ou não e, além disso, o orientador vai te ajudar a tocar o projeto. Já vi veteranos meus, que eram muito amigos, brigarem por terem feito o TCC juntos. E sempre tem aquela pessoa que quer fazer o TCC em grupo para não fazer nada, né? Infelizmente esse perfil de pessoa existe em todos os cursos e universidades. Então, para fugir da cilada, faça tudo sozinho. Parece meio egoísta, mas é uma decisão que não vai te dar dor de cabeça no futuro. E repito: não vai ser fácil, mas é possível e extremamente gratificante olhar e ver sua contribuição para a pesquisa jornalística.
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