Radiodocumentário resgata história dos Rebeldes! de Mariana, em MG

Redação Portal IMPRENSA | 24/10/2018 16:53
“A importância do resgate de acontecimentos que, pela falta de registro, sem sombra de dúvida corria o risco de cair no mais completo esquecimento”, foi uma das motivações para Luiz Loureiro e Thiago Gomes produzirem o radiodocumentário “Rebeldes!” - A história das bandas de baile que marcaram os anos 1960/1970 em Mariana/MG.

Luiz e Thiago se formaram em Jornalismo pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) e, em entrevista ao Portal IMPRENSA, comentam os bastidores do desenvolvimento deste TCC. 
Crédito:Arte de Luiz Loureiro

Contextualizando

Mariana, fundada como Vila do Ribeirão do Carmo, em 1696, ficou marcada recentemente pelo trágico rompimento da barragem de Fundão, pertencente à mineradora Samarco, que destruiu o distrito de Bento Rodrigues, ceifou 19 vidas e causou graves danos ao meio ambiente. No início dos anos 1960, antes da instalação das mineradoras, a cidade contava com pouco mais de 32 mil habitantes, a maioria na zona rural, e economia pobre, baseada principalmente na agricultura de subsistência e comércio.

Com poucas oportunidades de trabalho e estudo, muitos jovens mudaram-se para a capital do estado, fazendo com que a população encolhesse quase 24% em 10 anos. Dentre os que ficaram, inspirados pelo rico movimento musical da época, alguns decidiram aprender música “de ouvido” e criaram, quase simultaneamente, 3 bandas para animar festas, “horas dançantes” e bailes, reproduzindo os sucessos musicais nacionais e mundiais.

Juntamente com uma série de outros eventos, as bandas The REbels, Os Abutres e Os Incas promoveram uma mudança de costumes na cidade e expandiram sua atuação para praticamente todo o estado de Minas Gerais.

Sobre o radiodocumentário Rebeldes!

O objetivo do trabalho foi produzir um resgate da história dessas bandas, associado a uma contextualização sócio-política da cidade nas décadas de 1960 e 1970, justificado pela falta de dados e de documentação daquele momento histórico de Mariana e mesmo das atuações dessas bandas na cidade e nos festivais de música nas cidades vizinhas. Dessa forma, buscamos registrar, tornar conhecidos eventos significativos, e também proporcionar a oportunidade de recordação para aqueles que vivenciaram essa época. 

Principais desafios ao longo da produção

Um dos grandes desafios foi trabalhar com documentação escassa e com uma complicada logística de entrevistas, já que nem todos os ex-integrantes das bandas residem na cidade. Outro desafio foi a construção de uma narrativa coerente, a partir quase que somente da memória dos entrevistados, além da necessidade de assumirmos uma postura neutra, sem confrontações das diferentes lembranças dos protagonistas, cujas visões dos fatos muitas vezes mostraram-se um pouco contraditórias e sem precisão temporal.

Produzimos muito conteúdo e tivemos que selecionar em pouco tempo. Além das entrevistas em áudio que precisavam de edição, também tínhamos que selecionar e editar as produções em vídeo, as fotos de arquivo e as produzidas por nós mesmos, relacionando esse material com os contextos políticos e históricos de Mariana. Alguns dos entrevistados residem em outras cidades, então tivemos que enfrentar a barreira da distância também, em alguns casos esperando as ocasiões em que os entrevistados estariam em Mariana e dispostos a gravar e, em um caso em particular, entregar um roteiro de entrevista para uma colaboradora executar em nosso nome em outra cidade. 

Os aprendizados

Acreditamos que nossos maiores aprendizados tenham sido relacionados às questões de compatibilização dos conceitos de rádio expandido, documentário, cultura local e memória oral, que redundaram na implantação do site www.rebeldesmariana.jor.br, no qual disponibilizamos, não só os áudios do radiodocumentário, como também um vasto material complementar que possibilita a compreensão do contexto no qual ocorreram a formação e o desenvolvimento da história das bandas de baile.

Nosso aprendizado também transcende a questão cultural. Durante as entrevistas e as edições ganhamos muito aprendizado na manipulação do áudio, tanto em como captar melhor a voz, como dar mais coesão ao conteúdo na edição. Além disso, produzir um conteúdo expandido exige que busquemos aprender outras áreas, como o vídeo, habilidades que fomos adquirindo no decorrer do desenvolvimento do produto.
Crédito:Arte de Matheus Gramigna


O significado dessa experiência

A importância do resgate de acontecimentos que, pela falta de registro, sem sombra de dúvida corria o risco de cair no mais completo esquecimento, seguramente foi um dos aspectos mais gratificantes da produção do TCC. Some-se a isso o fato de que a repercussão obtida pelo trabalho - tanto entre pessoas que vivenciaram os eventos, quanto entre as mais jovens -, transmitiu-nos a satisfação de contribuir para a memória histórica da cidade, aproximando a instituição da sociedade na qual ela está inserida.

A produção do TCC é o momento que sumariza todo o aprendizado acumulado no curso. Nesse momento colocamos “a mão na massa” e resgatamos conhecimentos adquiridos em outros períodos para produzir um conteúdo coeso e interessante, com a qualidade necessária em cada um dos segmentos. Na parte do vídeo utilizamos conhecimento da disciplina de telejornalismo, no áudio de radiojornalismo, na parte escrita, sem dúvida, as experiências de passar pelo jornal e revista laboratório foram fundamentais. A produção do memorial utiliza conhecimentos das disciplinas mais teóricas, resgatando aprendizado dos primeiros períodos.

E não só no âmbito acadêmico, o resgate histórico do documentário foi de extrema importância para conhecer melhor o contexto político e social da cidade na qual estudamos ao longo de 4 anos. Permite outro olhar de Mariana, de seu passado e do contexto atual. Olhar os locais que resgatamos anos depois, e as pessoas que marcaram esses espaços no passado, mudam nossa percepção da história da cidade. Outra contribuição do TCC foi perceber como a população de Mariana recebeu o produto, sempre receptivos e com um sentimento nostálgico. 

As contribuições que o trabalho trouxe

A possibilidade de prosseguimento da pesquisa, visando à sua transformação em um livro, caso haja condições de viabilidade financeira, além de proporcionar uma interessante oportunidade de trabalho em equipe, que complementa nossa formação acadêmica. 

A possibilidade de ter produzido um conteúdo tão denso e tão bem cuidado abriu as perspectivas de produções futuras, de procura de mercado de trabalho e mesmo de produção independente. O conhecimento adquirido produzindo roteiro, captando e editando um radiodocumentário possibilita trabalhar mais com isso no futuro, oportunizando não só conhecimento de causa, mas também como densidade de currículo.

Conselhos para quem está fazendo o TCC

Acreditamos que duas perguntas devem ser feitas quando se pensa em um tema para o TCC: Ele tem relevância para a sociedade? Ele realmente nos empolga? Se ambas as perguntas forem respondidas afirmativamente, a probabilidade de desenvolvimento satisfatório e recompensador cresce bastante, juntamente com a sensação de que esta etapa significará mais que o fim de um ciclo, mas o princípio de nossa integração à sociedade e oportunidade de devolver a ela aquilo que em nós foi investido.

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